Briefing | Qual foi o desafio que vos foi lançado pelo Público?
Marcelo Lourenço | A liberdade de expressão é um tema muito importante para o Público, daí o envolvimento e o destaque que o jornal deu ao atentado ao Charlie Hebdo na altura do ataque. Um ano depois, o desafio lançado pelo Público era como marcar esta data e trazer o tema da liberdade de expressão novamente aos media.
Briefing | Como chegaram à caixa de lápis?
ML | Mais do que um atentado a um único jornal, os terroristas atacaram a própria liberdade de expressão, um valor essencial da moderna democracia. Se deixarmos de escrever e desenhar livremente por medo de represálias como essa, os terroristas venceram. Daí que a nossa arma mais poderosa, a única com que podemos combater os terroristas, é a coragem de continuar a expressar-nos livremente – e no caso do Charlie Hebdo, de continuar a desenhar. Quando este raciocínio ficou pronto, a ideia da “bomba” de lápis nasceu naturalmente.
Briefing | Apesar do digital, isto significa que a imprensa ainda tem peso social?
ML | A imprensa continua tendo um papel essencial no mundo moderno – principalmente a imprensa que já entendeu que é preciso adaptar-se ao novo mundo digital. O Público é um dos jornais que tem liderado a nova era do jornalismo multimédia, a transformar-se num produtor de conteúdo relevante.
A “Charlie Hebdo Box” é a prova disso: com um investimento mínimo mas com uma relevância gigantesca, o Público conseguiu chamar a atenção para um assunto que merecia ser tratado com a devida importância.
Briefing | E o que diz do próprio Charlie Hebdo?
ML | O Charlie Hebdo, um pequeno jornal francês com tiragem limitada, faz isso com uma competência brutal: goste-se ou não do humor praticado pelo Charlie Hebdo, ele consegue influenciar a pauta dos noticiários. O seu cartoon mais recente, o que mostra o miúdo sírio que morreu afogado a crescer e a transformar-se num violador, beira o mau gosto mas trouxe de volta às notícias o tema dos refugiados – e fez toda a gente voltar a falar sobre o miúdo sírio, uma imagem que já caíra no esquecimento.
Briefing | Que leitura fazem do acolhimento que está a ter nos media internacionais do setor?
ML | A reação foi polémica como o próprio Charlie Hebdo: a caixa foi enviada para 20 dos maiores jornais do mundo e enquanto alguns jornais nos deram os parabéns, outros devolveram a caixa sem nem sequer a abrir (por questões de segurança). A Charlie Hebdo Box foi eleita “Ad of the Week” no prestigiado The Drum, entrou no top 20 do Creativity e o vídeo que explica a ação foi visto e compartilhado milhares de vezes.
Briefing | Esta é a prova de que simplicidade é eficácia?
ML | Diria que a relevância é o segredo da eficácia.
Briefing | Estamos perante um trabalho candidato a prémios? Vão inscrevê-lo?
ML | Estamos todos muito felizes com a campanha e com o facto de ela trazer para os media a discussão sobre a liberdade de expressão. Claro, uma campanha com um buzz tão forte à volta dela aumenta as suas chances nos festivais de publicidade e, sim, pretendemos inscrevê-la. Sempre lembrando que o que vence ou não nos festivais é sempre um mistério.