Um canal nacional que dá voz às regiões? O Júlio explica

O Porto Canal quer ser diferente dos outros. O Júlio explicaSer um canal de proximidade, alternativo e com oferta variada, que abranja todos os nichos de público, em todo o país, e dar voz às regiões. Esta é a estratégia seguida pelo Porto Canal, segundo o diretor-geral, Júlio Magalhães, cujos objetivos até ao fim do ano passam por consolidar a posição no norte do país e duplicar a audiência a nível nacional. 

Briefing | Que balanço faz dos 10 anos do Porto Canal? Quais os principais marcos que destaca?

Júlio Magalhães | Há 20 canais em Lisboa e um fora em todo o país que é este. Um canal generalista, no cabo. O Porto Canal com 10 anos já é um canal sedimentado e que já faz parte dos hábitos dos portugueses. Hoje os portugueses passam pelo Porto Canal e é uma conquista tremenda para quem está fora do grande centro que é Lisboa.

Briefing |Ainda pode considerar-se o Porto Canal como um canal regional ou já falamos de um canal nacional?

JM | Nós nunca nos considerámos um canal regional, embora de facto o nosso foco seja a região norte. Mas a nossa informação é regional, nacional, mundial, portanto não é diferente de toda aquela que passa nos outros canais. A incidência do nosso canal é no território nacional, como é óbvio, mas virados para o norte do país. E mantém-se o objetivo de eliminar esta ideia de que o que se faz em Lisboa é nacional e o que se faz no resto do país é regional. Quando olhamos para os canais de televisão em Lisboa verificamos que estes andam em torno de todos os agentes, de todas as instituições, de todos os players, comentadores, entre outros que são de Lisboa. Só vão ao resto do país quando há um incêndio, um crime, um acidente. A maioria das televisões nem sequer aposta em delegações. O que é feito em Lisboa é nacional e o que é feito no Porto há-de ser nacional também.

Briefing | E o Porto Canal já está disponível em todas as operadoras?

JM | Estamos em todas as operadoras. Mas uma das grandes dificuldades para o Porto Canal são os obstáculos que temos tido. De sistematicamente termos que esclarecer o nosso projeto na ERC (Entidade Reguladora da Comunicação Social), das operadoras nos tirarem do ar ou às vezes mudarem o número do canal na grelha. Isto não acontece com mais nenhum canal de televisão. Por exemplo, estivemos seis meses fora da NOS, que tem mais de metade do mercado. Durante seis meses quem estava habituado a ver o Porto Canal deixou de ver. E estes obstáculos só têm sido colocados ao Porto Canal e nós temos resistido a todos eles. Hoje estamos nas plataformas todas e o Porto Canal é, indiscutivelmente, um canal referenciado tal qual como as outras estações. O primeiro-ministro, os políticos, o Presidente da República, os economistas, os escritores, todas as grandes referências nacionais passam pelo Porto Canal e já perceberam a influência que este tem.

Briefing | Que estratégias utiliza o canal tanto para ultrapassar esses obstáculos, como para conquistar mais audiência?

JM | Uma estratégia de proximidade. Nós temos hoje oito delegações. Uma em Lisboa e as restantes de Viseu para cima. Vamos abrir em Viseu agora e já temos em Bragança, em Chaves, em Mirandela, em Guimarães, em Braga, em Arcos de Valdevez e em Penafiel. A nossa estratégia passa por sermos um canal de proximidade e sobretudo um canal alternativo. Hoje os canais generalistas oferecem aos espectadores conteúdos iguais, que são novelas e reality shows, e os canais de cabo oferecem, sobretudo, futebol. O Porto Canal é provavelmente o canal com os conteúdos mais variados. Nós cobrimos todas as áreas. Temos conteúdos de investigação, história, cultura, cinema, música, sexo. Temos um programa original de comédia, em que juntamos um muçulmano com um padre católico e outras religiões. A mensagem que passam sistematicamente é que isto é um canal de clube e nós somos efetivamente um canal do Futebol Clube do Porto, o projeto tem a marca Futebol Clube do Porto. Mas comparando com os outros somos aquele que menos desporto dá e temos uma programação alternativa, variada e fazemos serviço público, porque damos programas em prime time que mais nenhum canal dá.

Briefing | E faz parte dos planos do Porto Canal abrir delegações a sul de Lisboa?

JM | Faz, faz. O nosso objetivo é estender o canal ao país todo. O nosso lema é “Do Porto e do norte para o país e para o mundo”. Já estamos em toda a Europa e nos Estados Unidos através de operadoras, estamos no país todo e, obviamente, que queremos também dar voz a todas as regiões. Mas é um plano que ainda vai demorar algum tempo a conseguir. Para já estamos a cobrir toda uma região norte e centro que nos interessa e que é muito o nosso foco, mas o objetivo é incluir o país inteiro.

Briefing | O Porto Canal no início do ano mudou a imagem e, como disse, tem uma oferta variada. De que outras ferramentas pode socorrer-se um canal televisivo para continuar a renovar-se e conquistar novos espectadores?

JM | As redes sociais, as apps, os tablets. O Porto Canal está em todas essas plataformas. Há uma aposta na tecnologia, na proximidade, em tudo o que são ferramentas de comunicação e via Futebol Clube do Porto também. Não nos podemos esquecer que a marca é o Futebol Clube do Porto, uma marca global e que, por isso, projeta muito o Porto Canal não só no país, mas além-fronteiras. Outra ferramenta é termos no nosso canal conteúdos que a maioria não tem e chegarmos a todos os públicos, mesmo àqueles nichos que não têm expressão na televisão. Não queremos ser um canal igual aos outros. As estratégias de televisão dizem que em termos de audiências devemos todos mimetizarmo-nos uns aos outros. Porque se um está a dar futebol, o outro também tem que estar a dar futebol. Se um está a dar um reality show, o outro também está. E nós estamos a fazer precisamente o contrário.

Briefing | E como têm evoluído as audiências do canal?

JM | Têm sido oscilantes, porque ora estamos num determinado número numa determinada operadora, ora estamos noutro. Isso obriga os telespectadores a criar novos hábitos. E também ora estamos numa operadora e não estamos noutra, o que volta a obrigar o telespectador a criar novos hábitos. Na região norte estamos ao nível dos grandes canais de cabo em termos de audiências. A nível nacional temos desvantagem, como é óbvio, mas sentimos o crescimento do Porto Canal. Os canais de cabo não são canais de grande audiência, são canais sobretudo de influência. E hoje acho que a influência do Porto Canal já é igual à influência que os outros canais têm. Não temos os mesmos números, mas também não temos tantos anos, meios, pessoas e dinheiro como eles. Por isso, para aquilo que é a nossa estrutura e o nosso orçamento, estamos acima daquilo que era a nossa expectativa.

Briefing | Pode indicar alguns números dessa evolução?

JM | A nível regional estamos nos 0,7% na região norte e a nível nacional nos 0,2%, 0,3%, 0,4%. A SIC ou a TVI têm 1,9%, a RTP anda com 0,8% a nível nacional. Se comparar a diferença de estruturas, planos de implementação e de orçamento, a diferença não é significativa.

Briefing | Que resultados espera o Porto Canal atingir até ao final do ano?

JM | A partir do dia 10 de outubro vamos ter uma nova grelha, com novos conteúdos, novas abordagens na televisão e contamos até ao fim do ano dobrar aquilo que é a nossa audiência a nível nacional e aumentar, significativamente, a nossa posição de liderança na região norte. E termos mais consistência de audiências na região norte, porque temos muitos dias em que ficamos à frente da concorrência.

Briefing | E como planeiam fazer isso? Têm ações preparadas?

JM | Vamos fazer uma grande campanha de lançamento e comunicação não só das caras do canal, mas também dos novos conteúdos que temos. Vamos ter séries de ficção pela primeira vez no canal, que nunca tínhamos tido. São duas séries que foram um grande sucesso na América do Sul e em Espanha, e que estou convencido que vão ser importantes para o canal e que irão alavancar outros programas. Vamos apostar ainda mais em informação e manteremos os três jornais do dia. Vamos introduzir as notícias de hora a hora e apostar muito nas transmissões diretas de futebol e das modalidades todas, sempre com foco naquilo que são jogos do Futebol Clube do Porto, mas alargando também a outras equipas da região norte.

rs@briefing.pt 

Sexta-feira, 30 Setembro 2016 11:20


PUB