Para ser franco, apesar de ser uma marca de iogurte, descobri isso quando li o livro de Satish Kumar “Para uma Ecologia Espiritual”.
Desde há muito tempo que estou convencido que uma empresa pode ter sucesso com sustentabilidade. De facto, não é isso que aprendemos nas business schools (pelo menos não naquela que frequentei há 25 anos, em França), mas certo é que cada vez mais empresas acreditam nisso. Iniciativas como a certificação BCORP destacam as empresas que têm esse compromisso e uma dupla responsabilidade: económica e social (ou ecológica). Essas são as empresas que dedicam esforços e recursos para a proteção do planeta.
Aliás, já em 1972, um tal Antoine Riboud chocou o Mundo quando anunciou que as empresas não deviam só pensar em rentabilidade e vendas e tinham também um compromisso para com a comunidade onde se inserem.
No ecossistema, todos têm uma ampla responsabilidade: não apenas as empresas (tantas vezes criticadas); têm-na também políticos, associações, e ainda um stakeholder que gostaria de destacar (e que é, a meu ver, o mais poderoso) o consumidor.
Temos tendência a desvalorizar o poder do consumidor/comprador. Mas o ato de compra é um “voto” que o indivíduo tem na mão e que deve usar para mandar mensagens, salvar o planeta, preparar o futuro dos seus filhos, corrigir as imperfeições que existem hoje…
Todos nós somos esse consumidor, todos nós temos diariamente esse voto, essa escolha de comprar um produto mais sustentável!
Infelizmente a minha experiência em estudos de consumidor mostrou-me que existe uma enorme distância entre “intenção” e “realidade”. Muitas pessoas apresentam-se como estando preocupadas com o Planeta, mas depois, no momento da verdade, quando têm esse tal “voto” na mão, muitas vezes preferem pagar menos 20 cêntimos por um produto e levar algo menos “eco friendly”.
Espero que esta verdadeira catástrofe que trouxe a Covid19 seja pelo menos uma oportunidade de reconstrução a esse nível e que o consumidor use melhor o voto que tem no futuro próximo.
No “Le Monde” de 7 de maio de 2020, Nicolas Hulos, o antigo ministro da Ecologia em França, lançou um manifesto com 100 princípios para reconstruir um novo Mundo de forma mais equilibrada e sana, um Mundo onde a economia pode crescer, não à custa do planeta mas sim para o planeta – muito alinhado com iniciativas como, por exemplo, a agricultura regenerativa, tão defendida por Emmanuel Faber.
No início de 2020, fui ver uma palestra de Satish no “CHANGE NOW”, em Paris, e onde ele voltou a repetir as palavras do seu mentor Ghandi “Sê a mudança que desejas ver no Mundo”; nunca estas palavras fizeram tanto sentido como agora.
Ludovic Reysset, Country Manager da Danone Portugal