Qual a relação entre o turismo e a proteção dos oceanos?
Portugal tem a 3.ª maior Zona Económica Exclusiva (ZEE) da União Europeia representando 11% da ZEE da União Europeia com 1.727,408 km2 de área, sendo a 5.ª maior da Europa e a 20.ª maior do mundo. Além disso, Portugal tem uma grande zona litoral propícia ao turismo, representando um grande potencial económico, com um impacto importante do ponto de vista do desenvolvimento social e económico das comunidades locais.
Embora as atividades turísticas representem um grande potencial exportador para os países, representam também um desafio quando se trata de impactos ambientais. A sobreutilização de algumas zonas costeiras causa pressão sobre os recursos naturais, gera poluição e contribui para a acidificação dos oceanos. Para continuarmos a usufruir destas condições naturais excecionais, temos de proteger os ecossistemas e promover a transição das empresas para práticas mais sustentáveis.
A proteção deve ser uma força motriz para todas as atividades relacionadas com o oceano e uma situação vantajosa para todas as partes envolvidas. As empresas que dependem dos ecossistemas costeiros e marítimos precisam inovar e repensar os seus atuais modelos e abordagens de negócios, integrando a adaptação ao clima, à escassez de água potável e acelerando a transição para alcançar a neutralidade carbónica, integrando princípios e práticas de sustentabilidade para melhorar o seu desempenho.
O que representa o setor do turismo para o potencial económico dos países e qual o seu papel na vida dos oceanos?
O turismo é um dos pilares da economia azul, representando 40% da atividade, globalmente. Embora o contributo do turismo para o potencial económico seja variável com as características de cada país, na União Europeia, Portugal é o segundo país onde o turismo tem mais peso, sendo a Grécia o primeiro. De acordo com um relatório do World Travel & Tourism Council (WTTC), o turismo representou em, 2021, em Portugal 19,1% da riqueza produzida (PIB).
O turismo enfrenta diversos desafios conhecidos para ser considerado sustentável, como sejam a não consideração dos impactos ambientais no planeamento da atividade turística, impacto nas comunidades locais em termos de descaracterização, mas, sobretudo, a limitada criação de rendimento, deficiente gestão dos recursos, entre outros. Contudo, a redução do seu impacto nos oceanos pode ser uma força positiva com iniciativas como a adesão à Global Tourism Plastics Initiative, a Declaração de Glasgow sobre ação climática, opção por circuitos curtos, seleção de cadeias de abastecimento mais responsáveis, entre outras.
Como se pode criar uma economia azul sustentável mantendo também o turismo sustentável e rentável?
A economia azul inclui todas as atividades relacionadas com oceanos, mares e costa, em que o turismo representa uma delas. Os drivers para uma economia azul mais sustentável são diversos e têm origem em diversos stakeholders. Nos agentes e operadores, como reação às expectativas de turistas mais conscientes e informados, os governos com políticas públicas adequadas, para manter a atração para os países, e o cliente a premiar soluções mais sustentáveis e inovadoras a partir das escolhas que faz. É necessário aumentar as soluções de financiamento azul para proteção dos oceanos, adaptação ao clima e desenvolvimento da economia azul, em que o turismo sustentável representa uma fatia.
A proteção dos oceanos representa um conjunto de oportunidades para as empresas. Oportunidades de inovação na área da produção de energia, fonte de alimentação, através do desenvolvimento da aquacultura e das algas marinhas, fonte de ingredientes para medicamentos, plataforma de transporte, atividade turística, e muito mais. O alcance da sustentabilidade nas atividades relacionadas com os oceanos requer uma abordagem diferenciada, como em qualquer outra atividade. Precisamos de macroplaneamento e de articulação entre entidades globais, políticas públicas que abordem os oceanos como críticos para o desenvolvimento e os protejam na mesma medida, de empresas social e ambientalmente responsáveis no desenvolvimento da sua atividade.
Portugal tem vindo a fazer este caminho com uma política que valoriza o turismo de qualidade e sustentável, aumentando o respeito pela natureza e pelos ecossistemas, reduzindo significativamente os impactos negativos. A Estratégia Turismo 2027 orienta os operadores turísticos nesse sentido, mas, na realidade, não há alternativa. As empresas que não seguirem este caminho estão apenas a atrasar-se face à concorrência de outros destinos. Não é o futuro. É agora. E Portugal tem condições de excelência para explorar a economia azul.
Que ações concretas podem as empresas promover para adotar práticas mais sustentáveis?
Aderir aos movimentos globais que traçam estratégias setoriais comuns como a Declaração de Glasgow, onde estão estudadas soluções adaptadas às características de cada negócio. Acelerar a adaptação das empresas à digitalização, realizar a transição energética para reduzir as emissões, proteger o património construído e natural na atividade turística, construir de forma sustentável aproveitando as características do contexto em que se insere ou reconstruir património recorrendo a técnicas e materiais renováveis e sustentáveis.
Rever os padrões de consumo, tirar partido de tudo o que é local, o pescado e outros produtos, aproveitar tudo o que é sazonal e fazer disso a sua imagem de marca, respeitar a paisagem, contribuir para uma cadeia de abastecimento mais sustentável e alinhada com a proteção dos oceanos.
Qual o papel da Global Compact neste sentido?
A Global Compact tem vindo a criar condições para apoiar as empresas. O nosso papel é proporcionar às empresas frameworks e orientação, como o enquadramento com os dez princípios do UNGC [United Nations Global Compact] que devem guiar qualquer atividade socialmente responsável, mas também criar condições para colocar as empresas numa jornada de sustentabilidade.