Mesmo com ações urgentes, continuaremos a enfrentar um aumento dramático de eventos catastróficos – desde secas a inundações – que se tornaram sinais indicadores de um mundo em rápido aquecimento. O alerta é do último relatório do Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas (International Panel on Climate Change – IPCC), que declarou a ciência das mudanças climáticas “inequívoca”.
Segundo o documento, podemos estar perto de cruzar uma série de pontos sem retorno, havendo “riscos de mudanças inevitáveis, irreversíveis ou abruptas”. É o caso do AMOC – Atlantic Meridional Overturning Circulation, sistema de correntes oceânicas que é um regulador chave das temperaturas no Oceano Atlântico e, por sua vez, mantém as temperaturas terrestres, particularmente na América do Norte. O IPCC diz que os cientistas têm “confiança média” de que o AMOC não entrará em colapso abruptamente antes de 2100, mas, se isso acontecesse, enfrentaríamos rapidamente “padrões climáticos refeitos, stress extremo nos ecossistemas e atividades humanas” interrompidas”.
Outra incógnita abordada pelo IPCC é a magnitude do aumento do nível do mar. Em cenários de altas emissões em que os países abandonam os compromissos climáticos, espera-se que o nível médio global do mar suba até um metro até 2100. Mas, indica, esse número também pode chegar a dois metros no mesmo período. Esta é uma diferença dramática que pode significar a diferença entre destruição e sobrevivência para comunidades costeiras em todo o mundo.
O documento indica, pois, que quanto maior o aquecimento global, mais provável é que ocorram mudanças catastróficas imprevisíveis. O que está em jogo pode, pois, mudar o mundo: a perda de ecossistemas inteiros, a rápida reconstrução de climas regionais e a destruição de regiões inteiras.
O relatório mostra como o futuro se torna mais difícil de prever à medida que as mudanças climáticas avançam. Os impactos das mudanças climáticas que os cientistas podem projetar hoje tornar-se-ão mais difíceis de prever quando se cruzarem com outros efeitos climáticos. O relatório dá como exemplo a insegurança alimentar, a qual poderia levar a mudanças nas práticas agrícolas, o que, por sua vez, afetaria o clima. “Com o aquecimento, os riscos da mudança climática tornar-se-ão cada vez mais complexos e mais difíceis de administrar. Múltiplos fatores de risco climáticos e não climáticos irão interagir, resultando na composição do risco geral e dos riscos em cascata entre setores e regiões.”
Não é expectável que o IPCC publique outro relatório pelo menos nos próximos seis anos, período em que é provável que o aquecimento global ultrapasse a marca de 1,5°C identificada pelos cientistas como uma zona de perigo para que alguns desses pontos críticos ocorram. Para combater esta situação, o documento indica que se a tecnologia, o know-how e as medidas políticas adequadas forem compartilhadas, e o financiamento adequado for disponibilizado agora, todas as comunidades poderão reduzir ou evitar o consumo intensivo de carbono.
Ao mesmo tempo, “com investimentos significativos em adaptação, podemos evitar riscos crescentes, especialmente para grupos e regiões vulneráveis. O clima, os ecossistemas e a sociedade estão interligados”, observa, sustentando que a conservação efetiva e equitativa de aproximadamente 30-50% dos recursos terrestres, água doce e oceano ajudará a garantir um planeta saudável. Advoga ainda mudanças no setor alimentar, eletricidade, transportes, indústria, edifícios e ordenamento do território para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, ao mesmo tempo que “melhorará a saúde e o bem-estar”. “Uma melhor compreensão das consequências do consumo excessivo pode ajudar as pessoas a fazer escolhas mais informadas”, remata.