Num artigo publicado na revista Frontiers in Environmental Science, os especialistas dizem que se não se agir rapidamente para limitar o aquecimento da Terra a 1,5 graus Celsius, tal como foi definido no Acordo de Paris de 2015, os eventos extremos que se têm vindo a observar na Antártida, nos últimos tempos, serão apenas o início de um processo de transformação radical que se vai manter nas próximas décadas e tornará irreconhecível essa zona do mundo.
O principal autor do artigo, Martin Stiegert, avisa que o que acontecer naquele lugar vai ter repercussões em todos os países e defende que neutralizar as emissões de gases com efeito de estufa é “a melhor hipótese para preservar a Antártida”. O cientista salienta ainda que essa é uma luta que “deve importar a todos os países e indivíduos do planeta”.
Se isso não acontecer, Stiegert diz que os países signatários do Tratado da Antártida, documento de 1959 que prevê a cooperação internacional pacífica nessa região, arriscam-se a violar os compromissos assumidos. O investigador acrescenta que enquanto as nações continuarem a explorar e queimar combustíveis fósseis, aconteça isso onde acontecer, “o ambiente da Antártida continuará a ser cada vez mais afetado de formas que são inconsistentes com o compromisso que assumiram”.
A equipa recorda que, em 2022, a região leste da Antártida sofreu a maior onda de calor alguma vez registada, com uma temperatura 38,5 graus acima da média, e que, atualmente, a quantidade de gelo marinho formado é a mais baixa de sempre. Além disso, essas alterações profundas estão também a ameaçar a sua biodiversidade, uma vez que mares cada vez mais quentes põem em risco, por exemplo, as populações de krill, que está na base das cadeias alimentares de muitos predadores. Como tal, com a redução da quantidade disponível, é expectável que todas as espécies associadas sejam fortemente afetadas.
“Os nossos resultados mostram que, embora se saiba que os eventos climáticos extremos impactam o mundo através de chuvas fortes e cheias, de ondas de calor e fogos florestais, como os que temos visto na Europa durante este verão, também têm impactos nas regiões polares mais remotas”, acrescenta a coautora do trabalho Anna Hogg.