Filipa Pantaleão é a nova secretária-geral do BCSD Portugal

O BCSD Portugal anuncia que Filipa Pantaleão é a nova secretária-geral. Em entrevista ao 2050.Briefing, a anterior responsável pela área técnica do Grupo Mota-Engil revela que o maior desafio é contribuir “com valor acrescentado aos membros diariamente e de forma oportuna”.

Filipa Pantaleão é a nova Secretária-Geral do BCSD Portugal

2050.Briefing | O que a levou a querer assumir a função de secretária-geral do BCSD Portugal?

Filipa Pantaleão | Assumir o cargo de secretária-geral do BCSD Portugal representa sem dúvida um desafio entusiasmante e gratificante. Lidar com uma rede tão diversificada de empresas, operando em múltiplos setores e com diferentes dimensões, requer competências de liderança, visão estratégica – antecipando tendências e desafios globais emergentes e um profundo compromisso com a sustentabilidade.

Para liderar eficazmente uma equipa multidisciplinar em prol da sustentabilidade, é fundamental promover uma cultura de colaboração, inovação e compromisso com os objetivos da organização. Isso implica definir metas claras e mensuráveis, criar programas e iniciativas específicas para atender às necessidades e aos desafios das diferentes empresas associadas, e estabelecer parcerias estratégicas com outras organizações e partes interessadas relevantes.

Além disso, é importante garantir uma gestão eficiente dos recursos disponíveis, incluindo o orçamento da organização, de modo a maximizar o impacto das atividades realizadas e garantir que o valor agregado oferecido às empresas associadas seja tangível e significativo.

Quais os objetivos para este mandato?

A nossa missão base mantém-se inalterada há mais de 20 anos, que é incentivar e apoiar os nossos membros na sua jornada rumo à sustentabilidade, inspirando-os e ajudando-os a construir organizações e modelos de negócio que sejam competitivos, inovadores e sustentáveis ao nível Ambiental e, mais recentemente, introduzindo a componente Social e de Governance económico. Estes três pilares demonstram que a sustentabilidade é responsabilidade do negócio e dos seus impactos nas pessoas e no planeta, por isso, evoluímos. Assim, em 2019 (após a eleição de uma nova direção), realizámos uma análise estratégica que resultou em cinco tópicos-chave a serem abordados, nomeadamente: Biodiversidade, Economia Circular e Cadeia de Valor, Clima e Energia, Reporte e Finanças Sustentáveis, e Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI). Este último é um excelente exemplo de como estamos a aprofundar várias vertentes em cada uma das siglas em ESG, sempre de acordo com as solicitações das empresas, inovando, mas sem perder o objetivo macro da promoção da sustentabilidade.

Em termos de objetivos quantitativos, temos de atingir os 200 membros, o que representa um crescimento de 22,8% face a 2023, e queremos consolidar a Academia como a instituição certificada e de referência para as empresas poderem formar os seus colaboradores. No ano passado, formámos quase 3000 pessoas, quer membros, quer empresas da sua cadeia de valor, por exemplo, com a parceria com a Fundação Santander.

O que é que a sua experiência profissional anterior pode trazer para esta nova função?

Estive quase duas décadas no Grupo Mota-Engil, onde tive a oportunidade de construir uma carreira corporativa vasta e diversificada, percorrendo vários setores com diferentes componentes regulatórias e envolvendo diversos stakeholders, como, por exemplo, no Peru, onde se destaca uma forte tradição de bem-estar comunitário, e em Portugal, onde se nota um cuidado institucional mais acentuado, tanto com o Estado, como com os municípios e os reguladores. Toda esta experiência preparou-me, em termos de gestão, para enfrentar os desafios do âmbito Social e de Governance. Já o Environmental, é uma paixão que alimento desde os tempos da faculdade.

Quais os maiores desafios para este cargo?

Contribuir com valor acrescentado aos nossos membros diariamente e de forma oportuna é essencial. Com a crescente quantidade de regulamentações, relatórios e notícias, acredito que todos nós sentimos uma certa eco-ansiedade e medo de ficar para trás. Portanto, o nosso trabalho consiste em fornecer conhecimento relevante, desenvolver projetos em tempo real e colaborar com as empresas, apoiando as suas estratégias de negócio com uma abordagem sustentável.

De que forma o BCSD Portugal pode promover a igualdade de género?

Através do estudo desenvolvido em colaboração com a Ernst & Young, a pedido das empresas, conseguimos obter uma visão detalhada da situação em cerca de 70 empresas, abrangendo aproximadamente 100.000 colaboradores. As conclusões deste estudo destacam os pontos críticos e identificam boas práticas que podem ser partilhadas com as empresas. Por exemplo, 58% das empresas identificam a falta de conhecimento e competências em DEI como um desafio, enquanto 29% destacam a falta de dados confiáveis ou ferramentas para monitorizar as métricas DEI como uma das principais barreiras para a sua implementação efetiva.

Outro dado relevante é a presença atual de quatro gerações ativas no mercado de trabalho (com mais de 59 anos, de 43 a 58 anos, de 27 a 42 anos e de 18 a 26 anos), o que reflete uma diversidade de perspetivas e expectativas que deve ser abordada de forma informativa e colaborativa, não apenas nas empresas, mas também na sociedade em geral.

Em resumo, as mulheres continuam sub-representadas em cargos de liderança, recebem salários inferiores aos homens e têm menor probabilidade de serem contratadas e promovidas internamente, encontrando-se frequentemente em posições de maior vulnerabilidade social. No entanto, as empresas estão progressivamente a integrar práticas, programas e métricas DEI. No BCSD Portugal, iremos apoiar as empresas na consolidação de uma estratégia DEI abrangente.

É importante notar que a sociedade está cada vez mais consciente deste tema e apoia a sua promoção. As próprias mulheres estão a desempenhar um papel ativo, sendo atualmente o género com maior nível de educação. Estudos demonstram que uma maior presença de mulheres em cargos de liderança contribui para uma maior competitividade, criatividade, inovação e uma comunicação mais eficaz, resultando em benefícios para o negócio. Além disso, as líderes femininas tendem a ter uma maior sensibilidade para questões sociais e ambientais, promovendo negócios mais sustentáveis e responsáveis.

Simão Raposo

Terça-feira, 27 Fevereiro 2024 15:38


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