O que significa para o município de Guimarães ter sido a única cidade portuguesa a ser eleita para integrar o programa Pilot Cities?
A seleção de Guimarães para o programa Pilot Cities, do NetZeroCities, é o reflexo do trabalho ímpar que o município tem vindo a desenvolver ao longo destes últimos anos na área da sustentabilidade e das alterações climáticas. Estamos, por isso, muito satisfeitos com este reconhecimento, sendo que Guimarães está mais comprometido do que nunca com estas matérias. Como já foi anunciado, o município irá apresentar a sua candidatura a Capital Verde Europeia 2025, e é uma das cidades que assumiu o compromisso da neutralidade climática até 2030 e, por isso, este projeto no âmbito do programa NetZeroCities será importante para estes objetivos.
Em que consiste o programa Pilot Cities, do NetZeroCities?
O NetZeroCities trata-se de um consórcio de 33 parceiros europeus que apoia, através da plataforma EU Cities Mission, 112 cidades europeias na redução das emissões de gases com efeito de estufa. O programa Pilot Cities, por sua vez, tem como intuito implementar novas soluções que permitam descarbonizar rapidamente os centros urbanos. A iniciativa contou com 103 candidaturas, envolvendo um total de 159 cidades e 33 países da União Europeia, ou associados ao programa-quadro comunitário Horizon 2020 para a pesquisa e inovação. No final, foram escolhidas 25 candidaturas, correspondentes a 53 cidades.
Este primeiro grupo de 53 cidades foi selecionado para embarcar numa ação climática sem precedentes. Seja através de trabalho individual ou em grupo, as Pilot Cities vão ter a oportunidade de implementar ações sistémicas, localmente desenhadas e transversais a diversas áreas de atuação – energia térmica, gestão de resíduos, uso do solo, eletricidade e edifícios, processos industriais, e mobilidade e transportes.
Ao nível prático, em que se traduz a envolvência do município neste programa?
O município candidatou-se ao programa Pilot Cities com o projeto “District C – Compromisso de Carbono Zero”. Em termos práticos, pretende-se promover uma mudança comportamental junto dos cidadãos, incentivar a inovação social e criar modelos de negócio, através do financiamento sustentável e tecnologias verdes. O objetivo, claro, é um futuro mais limpo e saudável. Para esta missão, Guimarães pretende envolver os seus cidadãos, convertendo os vimaranenses nas principais peças do projeto.
No âmbito da NetZeroCities, as ações das cidades piloto serão suportadas em 32 milhões de euros. Para o desenvolvimento das diferentes ações propostas no âmbito do projeto “District C – Compromisso de Carbono Zero”, Guimarães irá receber um financiamento de quase um milhão de euros do Programa-Quadro de Investigação e Inovação da União Europeia – Horizonte 2020.
De que forma Guimarães está um passo mais próxima da neutralidade carbónica?
Guimarães está cada vez mais determinada em liderar o caminho para um futuro sustentável e carbono-zero. Como parte integrante do projeto NetZeroCities, a cidade vai utilizar o projeto “District C” como um laboratório social experimental para testar um conjunto de medidas inovadoras, com o intuito de atingir a neutralidade carbónica no centro da cidade.
Tal como referi, é importante sublinhar que o município é também uma das únicas cidades portuguesas selecionadas para a iniciativa “100 Climate-neutral and Smart Cities by 2030”, promovida pela Comissão Europeia e, nesse sentido, reforça esta vontade de liderança pelo exemplo, contribuindo ativamente para a causa global da neutralidade climática.
O “District C – Compromisso de Carbono Zero” é apenas um dos muitos projetos importantes que estão em andamento no município. Mas, entre outras, podemos enumerar também a iniciativa “Guimarães Desporto Carbono Zero”, que já está em marcha, envolvendo 55 clubes do concelho (e mais de mais de sete mil atletas federados, das mais diversas modalidades) e que tem como objetivo contribuir para a neutralidade climática até 2030. De forma simplificada, o projeto inclui uma fase de diagnóstico aos clubes, para que depois seja desenvolvido um plano de ação – que se quer adaptado à realidade de cada clube – para que seja possível reduzir a sua pegada de carbono. O objetivo é avaliar parâmetros de eficiência energética, recursos hídricos, tratamento de resíduos e mobilidade dos clubes, entre outras questões.
Estes são apenas alguns exemplos dos projetos que a cidade tem vindo a desenhar e a implementar para tornar a sua comunidade um lugar melhor e mais sustentável para todos.
O município desenvolveu o projeto piloto “Distrito C: Compromisso de Carbono Zero”. Em que consiste e qual o principal objetivo?
Em Guimarães já existe um projeto em implementação que é o “Bairro C”, que designamos como os “Caminhos da Cultura e Criatividade”, tendo como objetivo ser um laboratório de ideias assente em pilares culturais, criativos, de conhecimento e científicos. Com a candidatura ao NetZeroCities surgiu a ideia de se acrescentar mais um “C” a este bairro, com o objetivo de o tornar climaticamente neutro.
Assim, este projeto, o “District C”, apresenta uma abordagem integrada, concentrada em várias áreas-chave, incluindo energia, mobilidade, resíduos e uso do solo. É muito inovador e pretende-se que promova uma mudança comportamental, assim como potencie a inovação social e a criação de novos modelos de negócio, financiamento sustentável e tecnologias verdes, tudo em busca de um futuro mais limpo e saudável.
O pacto do cidadão é, na realidade, a peça central do projeto, com um forte envolvimento dos residentes locais. Os vimaranenses serão incentivados a adotar práticas mais sustentáveis em várias áreas, como é o caso da mobilidade. Nesta vertente, serão criadas medidas para desencorajar a utilização de veículos de combustão e veículos privados, promovendo a utilização da rede de transportes públicos e a melhoria do espaço público. Neste âmbito, o município já duplicou a frota de autocarros elétricos (contando atualmente com 26 novos veículos), tendo também alargado as suas rotas.
Já no setor edificado, serão promovidas a eficiência energética e a produção local de energia renovável, com novas políticas, regulamentação, um balcão único e modelos de financiamento inovadores, além da facilitação da instalação fotovoltaica e da reabilitação energética de edifícios históricos.
No que diz respeito aos resíduos e à utilização do solo, que são também áreas importantes do projeto, serão desenvolvidas estratégias de economia circular para valorização e redução de resíduos. Pretende-se também incentivar mais jardins privados na malha urbana e reforçar o corredor verde para aumentar a capacidade de sequestro de CO2, assim como melhorar a biodiversidade e utilizar resíduos orgânicos como fertilizantes, promovendo a bioeconomia.
Haverá ainda projetos para reforçarmos a redução a utilização de plástico no Mercado municipal, assim como integrar logística suave de proximidade e valorizar os resíduos deste bairro de forma a encerrar o ciclo.
Que retorno espera ter a cidade ao integrar o programa europeu?
Fazer parte de um projeto desta dimensão posiciona Guimarães na liderança da neutralidade climática que a cidade almeja e merece pelo trabalho incansável que tem vindo a desenvolver. Além disso, aproxima o município dos seus objetivos, uma vez que permite o financiamento de projetos que são da máxima relevância para o território e para os vimaranenses. Os principais objetivos de Guimarães passam, efetivamente, por alcançar a neutralidade climática, esperando inspirar outros territórios a desenvolver medidas para atingirem o mesmo objetivo.