2050.Briefing | O Plano Estratégico para a Ecocidade de Bragança foi elaborado. Quais foram os principais desafios inerentes à sua implementação?
Hernâni Dias | Bragança tem vindo a afirmar-se como ecocidade, tendo sido elaborado o “Plano Estratégico para o território”, sob o lema “Fazer da cidade um Município Classe A” e que pretende tornar Bragança numa ecocidade moderna, capaz de atrair pessoas qualificadas e investimento, fazendo valer os seus recursos endógenos.
O maior e mais importante desafio é o envolvimento dos diversos agentes locais e sociedade civil, no sentido de, em conjunto e em rede, implementar medidas de adaptação às alterações climáticas, capazes de inspirar a aceleração da descarbonização, tornando este território mais resiliente e sustentável, dando um importante contributo para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.
Em que medida, ao assumir-se como ecocidade, Bragança tem presentes os princípios de ecossistema, biodiversidade e mobilidade sustentável?
Assumimos diariamente a sustentabilidade como um vetor estratégico na atuação municipal.
Através de um projeto inovador, demos o primeiro passo para uma visão de sustentabilidade globalmente consistente, participando, com um grupo pioneiro de municípios, na primeira avaliação municipal da pegada ecológica e biocapacidade (projeto liderado pela ZERO, Global Footprint Network e Universidade de Aveiro).
Os resultados preliminares demonstram que a biocapacidade do município de Bragança é cerca de 110% superior à média nacional. Para este resultado muito contribuem as políticas de sustentabilidade ambiental que temos vindo a implementar: a iluminação LED; as ciclovias e bicicletas elétricas partilhadas de utilização gratuita; a mobilidade elétrica; e o turismo sustentável, política de resíduos, entre outras.
Bragança está ciente dos novos desafios futuros? Está preparada para uma possível readaptação?
É inquestionável que vivemos tempos de grandes desafios, resultantes do ambiente geopolítico e macroeconómico muito complexo, volátil e instável, mas também da problemática das alterações climáticas, que obriga a uma transformação global agindo localmente.
Entendemos que o cumprimento da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável está dependente do papel ativo de todos os agentes económicos.
Naturalmente, o município de Bragança estará preparado para abraçar novos desafios e readaptar a estratégia de atuação. Assim aconteceu com a pandemia mundial de Covid-19, que exigiu muita resiliência e capacidade de adaptação de todos.
Se Bragança tivesse de dar um conselho a outro município, qual seria?
Colocar na agenda a temática da sustentabilidade, nas suas diversas dimensões, alocando os necessários recursos financeiros e humanos. Não menos importante é o trabalho colaborativo com todos os agentes locais, envolvendo, sempre, a comunidade. A sensibilização e a promoção da literacia para a Agenda 2030, junto dos atores locais, desde decisores políticos, até empresas e cidadãos, é uma prioridade, pois a cidadania climática é um dever de todos.
Que mudanças serão necessárias nas cidades para se atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável?
As cidades devem liderar e governar tendo como base os objetivos de desenvolvimento sustentável. Assim, urge reeducar as populações e envolvê-las para aplicar medidas disruptivas, nem sempre valorizadas. A forma como se viaja, o impacto do consumo energético dos edifícios, a economia circular e o uso eficiente dos recursos hídricos são elementos-chave da mudança de paradigma para se atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável.
Bragança poderá vir a ser reconhecida a nível internacional como ecocidade?
Acreditamos que, com o contributo e envolvimento de todos, Bragança se tornará uma Human Smart Region, reconhecida a nível internacional, sustentável, mais competitiva e com crescimento sustentado, baseado na inovação, conhecimento, tecnologia e investigação, oferecendo melhor qualidade de vida, onde todos se sentirão ainda mais felizes e orgulhosos, fazendo deste um território único.