Inês Sequeira: “A criação de impacto pelas empresas é um must-have”

Será que nos dias de hoje importa pensar no potencial da inovação social para a criação de negócio? A fundadora e diretora da Casa do Impacto da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Inês Sequeira, dá o seu parecer sobre a criação de emprego com impacto social e sobre a realidade vivida neste âmbito em Portugal.

Criar emprego com impacto social

No contexto empresarial, o impacto social é a forma como a atividade das organizações e dos negócios afeta a sociedade. Quando geram impacto social positivo, conseguem unir o trabalho ao propósito através de positivas de impactar os clientes, o ambiente e a comunidade, procurando ser um player ativo na construção de uma sociedade justa e igualitária. Um bom exemplo é a Reshape Ceramics, que emprega atuais e antigas pessoas da comunidade prisional na criação de peças de cerâmica artesanais, apostando na reintegração digna na sociedade. Outro é a plataforma Valor T, criada pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que promove a empregabilidade de pessoas com deficiência através de um processo centrado na valorização do talento e no mérito.

Must-have para empresas

A criação de impacto pelas empresas é, cada vez mais, um “must-have”, deixando se ser apenas vista como um “plus”. Assim é porque os consumidores estão bastante mais conscientes da importância das suas ações e querem apoiar negócios que demonstrem este impacto. Esta mudança de paradigma reflete-se também no recrutamento e retenção de talento: atualmente, conseguimos ver um aumento de interesse em trabalhar para empresas ou organizações que oferecem essa dimensão de “trabalho com propósito”. A existência de uma mesa de ping-pong ou um escorrega no interior do escritório já não entusiasma os candidatos da mesma forma que o fazia há cinco ou dez anos.

Tirar proveito do impacto social
A Patagonia, marca de roupa de outdoor americana, é um dos maiores exemplos de uma empresa que soube utilizar o impacto positivo em seu proveito. Através do apoio constante à causa ambiental e da manutenção de uma relação de confiança com o seu público-alvo, demonstra como é possível gerar incríveis lucros ao mesmo tempo que se gera grande impacto. Em Portugal, a Academia de Código transforma vidas ao combater o desemprego através da formação na área da programação. Já perdi a conta às histórias de alunos que entram na academia em situações de grande instabilidade e que, no final, conseguem empregos, bem pagos, em grandes empresas.

Pessoas como agentes de mudança

Só as pessoas podem ser verdadeiros agentes de mudança, porque qualquer transformação ou inovação parte sempre de alguém com coragem para fazer diferente. Acontece que, muitas vezes, existe essa vontade individual, mas muitos não sabem por onde começar e é por isso que, na Casa do Impacto, promovemos a capacitação. Queremos dar às pessoas, às empresas e às organizações as ferramentas necessárias para inovarem de forma sustentável.

Em Portugal

Já existe uma preocupação com o impacto no tecido empresarial nacional, principalmente entre as grandes empresas, que sabem que é o único caminho para conseguirem manter-se em funcionamento. No entanto, sente-se também algum desnorteio na hora de decidir de que forma incorporam iniciativas de impacto na sua atividade. Criam-se departamentos, mas parece que tudo fica pela metade, gerando impacto “aqui e ali”, mas não estruturalmente.

Negócios convencionais vs. startups

A apetência para gerar impacto é maior em startups porque são mais flexíveis e ágeis nos processos e também porque a motivação para o negócio é intrinsecamente pessoal. Ainda assim, é importante realçar que só alcançaremos o objetivo de um mundo sustentável com o apoio ativo dos grandes negócios convencionais, que podem “beber” do ecossistema de empreendedorismo de impacto, por exemplo incorporando novas soluções ou financiando iniciativas de apoio ao empreendedorismo, mas principalmente tornando-se agentes ativos no ecossistema.

Terça-feira, 13 Dezembro 2022 10:51


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