Em termos práticos, em que consiste o trabalho do Center of Digital Inclusion (CDI)?
Somos uma ONG (Organização Não-Governamental) com a missão de inovação e inclusão social e digital. Desenvolvemos projetos com a comunidade para resolverem ou minimizarem os seus problemas. Tudo isto com a utilização da tecnologia. Neste momento gerimos dois projetos: o Apps for Good em Portugal, com o objetivo de ajudar a transformar o modelo educativo; e o Centro de Cidadania Digital de Valongo, para incluir toda a comunidade num objetivo comum de sustentabilidade.
Nestes dez anos, que papel considera que a associação tem tido no desenvolvimento do mundo digital?
Nestes dez anos contribuímos ativamente para a inclusão digital através do envolvimento direto de cerca de 60 mil beneficiários. Ajudámos as comunidades em que operamos a utilizar as tecnologias como forma de melhorar as suas competências e de abrir novas oportunidades para a sua vida profissional e pessoal. Nas escolas, e através do nosso programa Apps for Good, ajudámos professores e alunos a aderirem mais facilmente às novas tecnologias.
Até então, qual o impacto do CDI na sociedade portuguesa?
Até agora, envolvemos mais de 145 mil pessoas. No Apps for Good trabalhamos com mais de 25 mil alunos e quase 1600 professores envolvendo um total superior a 650 escolas. À nossa dimensão e em números absolutos, o impacto é mínimo na sociedade portuguesa, mas temos a ambição de chegar ainda mais longe, acreditando que algumas das metodologias que propomos poderão vir a ser adotadas como políticas públicas. Durante estes dez anos, ganhámos um Prémio Unesco para a melhoria da performance dos professores e fomos reconhecidos pela União Europeia como uma prática inspiradora na Educação Tecnológica, entre outros prémios e reconhecimentos. Mas continuaremos convictos que pertencemos a uma nova geração de inovadores sociais que gradualmente conseguirão alterar, para melhor, os modelos vigentes.
Em que se traduz a aposta na inovação e na tecnologia?
A aposta na tecnologia traduz-se na disponibilização à comunidade de ferramentas digitais que possam melhorar as suas competências individuais. A inovação trabalha-se em dois vetores diferentes: a social e a digital. Na primeira, apostamos em novas formas de viver, trabalhar e estudar. O nosso programa Apps for Good propõe a transformação do modelo educativo em quatro pilares fundamentais: a ligação da escola à economia real; a utilização da tecnologia transversalmente a todas as disciplinas; a evolução das práticas pedagógicas dos professores; e a centralidade do ensino no aluno com o professor a assumir a posição de facilitador e não de líder. Na inovação digital, além da literacia digital básica, defendemos que é tempo de a tecnologia de ponta deixar de estar reservada em empresas tecnológicas ou centros de investigação de universidades ou outras entidades. De facto, a crescente facilidade de utilização da tecnologia e o conhecimento global permitido pela internet, fazem com que qualquer pessoa possa, independentemente do seu grau académico ou ramo de estudo, ser um especialista em determinada área tecnológica. Nos nossos Centros de Cidadania Digital colocamos à disposição da comunidade equipamentos e ferramentas tecnológicas que permitem desenvolver os mais diversos e criativos projetos que resolvam problemas sociais.
Que projetos destaca destes dez anos de trabalho?
No caso do CDI é difícil destacar um projeto porque, tendo uma metodologia base comum, os diferentes projetos são sempre uma consequência do trabalho que vamos efetuando e incluindo nos dois programas que já referi: Apps for Good e Centro de Cidadania Digital.
Neste ano, posso destacar o nosso Apps for Good presente nas prisões, em nove estabelecimentos prisionais e onde o impacto observado é extraordinário. No ano passado, lançámos um piloto de alterações climáticas em conjunto com a Galp, um dos nossos parceiros, com grande impacto na comunidade escolar.
No Centro de Cidadania Digital vamos agora lançar o InGaming, um projeto que pretende retirar o estigma negativo dos jogos virtuais apresentando o Gaming como potenciador de competências para os empregos do futuro. Mas temos também o projeto Actualiza-te que coloca desempregados a terem formação de marketing digital e que depois passam a atuar como consultores nas microempresas locais, para as ajudarem na sua evolução digital.
Finalmente, um grande destaque para os nossos eventos que atraem um publico diversificado e interessado. Na competição do Apps for Good, os Encontros Regionais Norte, Sul, Madeira e Açores são um grande ponto de encontro para alunos e professores e, na realidade, uma grande festa da comunidade escolar. Mas é na final em setembro, na Fundação Calouste Gulbenkian, que as 22 equipas finalistas se encontram num evento que, para além da competição, conta sempre com grandes debates sobre Educação. Em Valongo, celebramos anualmente a Inovação Social com um evento – Switch to Innovation Summit – onde apresentamos todos os projetos de Inovação social incluindo tecnologia.
Mas para quem quiser saber mais, e durante este ano em que celebramos o décimo aniversário, poderá ouvir a nossa podsérie cujos episódios sairão todos os meses, ao dia 10 às 10h00, no Spotify – CDI Portugal – Há dez anos a bater corações – e nas nossas redes sociais online.
Para o futuro, quais os principais objetivos do CDI?
Queremos continuar a ser uma ONG de referência no setor da inovação social. No Apps for Good temos como objetivo chegar a todas as escolas do País e iniciar a internacionalização.
No Centro de Cidadania Digital queremos continuar a consolidar o conceito preparando-o para ser fácil e economicamente replicável.