Como surgiu o OneAquahealth?
As ideias centrais deste projeto vêm na sequência do trabalho que a minha equipa de investigação tem vindo a fazer já há vários anos, com diversos colaboradores, no estudo dos ecossistemas aquáticos urbanos. Temos estudado o efeito da urbanização sobre a saúde dos rios e ribeiros urbanos, analisando as suas comunidades aquática e terrestre associadas (nas margens), o funcionamento dos ecossistemas e ainda os serviços do ecossistema que estes sistemas nos proporcionam ou podem proporcionar (se estiverem em bom estado), contribuindo para a melhoria da sustentabilidade das cidades e a melhoria da qualidade de vida dos seus cidadãos. Os diversos artigos publicados e as teses que temos a decorrer ou já terminadas nesta área foram uma importante base para este projeto.
Por coincidência, nesta altura a Comissão Europeia abriu calls para projetos relacionadas com o conceito OneHeatlh, conceito que nos traz uma visão da Saúde de forma mais alargada e que interliga a saúde humana com a saúde dos animais e das plantas, e que se alinhava muito bem com esta nossa linha de investigação. A partir daí, juntaram-se vários parceiros europeus interessados neste tema e com vista a promover ainda mais a interdisciplinaridade necessária a este tópico, e cidades que pudessem ser casos de estudo e nos permitissem cobrir um gradiente climático e diferentes perspetivas socioculturais na Europa.
Quais os seus objetivos?
O OneAquaHealth tem como objetivo principal demonstrar que o bem-estar dos ecossistemas aquáticos está altamente interligado à saúde e bem-estar humanos em contextos urbanos e que rios e ribeiros urbanos em bom estado podem ter um efeito protetor contra o surgimento de surtos de doenças. Além disso, pretende desenvolver um sistema de monitorização de indicadores ambientais que permitam fornecer alertas precoces sobre a degradação dos ecossistemas aquáticos urbanos que possam levar ao surgimento e disseminação de doenças que afetem a saúde humana física e mental humana. Irá ainda desenvolver tecnologias para fomentar a ciência cidadã nesta área, e um sistema de decisão para apoiar decisores políticos. Este último incluirá medidas baseadas na natureza para recuperar e manter a saúde dos ecossistemas aquáticos em diferentes cenários, incluindo de alterações climáticas.
Qual a importância de estudar a relação entre os ecossistemas aquáticos urbanos e a saúde humana?
Os ecossistemas ribeirinhos são uns dos mais afetados pela urbanização e em geral por atividades antropogénicas, que levam à perda da sua biodiversidade e à má qualidade da água. Estas condições potenciam a presença de diferentes patógenos (vírus e bactérias) que podem afetar o homem (bem como outros animais e plantas do ecossistema e fora) e que têm maior probabilidade de entrar em contacto com as pessoas se os ecossistemas degradados estiverem muito perto das habitações, como frequentemente acontece nas cidades, onde todo o espaço foi ocupado por construção. A perda de vegetação das margens, algo comum quando há construções muito próximas, leva também à perda dos serviços que o ecossistema ribeirinho poderia trazer, como a manutenção da boa qualidade do ar ou da água, e a mitigação de extremos climáticos.
Por outro lado, está provado que o contacto com a natureza tem um efeito calmante nas pessoas, diminuindo o risco de doenças cardíacas, por exemplo, além de permitir promover a destreza física. Assim, a natureza perto de casa, trazida por pequenos ribeiros ou rios urbanos em bom estado, é algo muito benéfico para as pessoas que vivem nas cidades e que estão tipicamente sujeitas a um nível de stress elevado, têm pouco tempo para fazer exercício físico e onde as crianças têm pouco contacto com a natureza.
Assim, faz todo o sentido tentar demonstrar a ligação entre a saúde dos rios e ribeiros urbanos e a saúde humana, de forma até a promover uma maior consciencialização para a necessidade de recuperar e manter estes ecossistemas.