Microplásticos: a complexidade de um problema invisível

Carla Silva, investigadora do MARE, aborda os perigos da ingestão de microplásticos pelos organismos aquáticos.

Microplásticos: a complexidade de um problema invisível

Os microplásticos são pequenas partículas de plástico com tamanho inferior a cinco milímetros. Podem ter origem primária e secundária. Os primeiros são fabricados de propósito para serem usados em produtos de plástico, em tintas ou fertilizantes. Os secundários resultam da fragmentação do produto plástico maior (ex: embalagens), e que por degradação física, química e biológica tornam-se partículas mais pequenas.

Devido à facilidade com que são transportados, são encontrados em quase todos os locais do planeta e em diversos ecossistemas (e.g. em mar aberto, em sistemas estuarinos, lagoas ou rios). Atualmente, cerca de 1,5 milhões de toneladas destas partículas entram nos oceanos todos os anos, dos quais cerca de 10% são originários da União Europeia (UE).

Apesar de maioritariamente invisíveis, existem evidências de que os organismos aquáticos ingerem microplásticos, que podem, em último caso, provocar mortalidade. Por exemplo, nos peixes, estas partículas ficam retidas nos intestinos, o que leva à redução da capacidade de alimentação e diminuição das reservas de energia. Os microplásticos são também vetores potenciais na transferência e exposição dos organismos marinhos a poluentes persistentes orgânicos (POP) de elevada toxicidade, que absorvem facilmente as partículas de plástico. Assim, a sua ingestão constitui uma ameaça de longo-prazo para os organismos marinhos, não só pela possível obstrução mecânica do aparelho digestivo, mas também pela complexidade dos efeitos tóxicos dos POP.

Atualmente, estão a ser consideradas algumas medidas que têm como objetivo a minimização da presença de microplásticos no meio ambiente. Por exemplo, é proibido adicionar a produtos como cosméticos e detergentes na UE (em Portugal desde 2021), e também já estão a ser tomadas medidas para minimizar a libertação destas partículas dos têxteis, pneus, tintas e filtros de cigarro.

A educação ambiental desempenha um papel essencial no combate a este tipo de poluição, promovendo a consciencialização pública para os efeitos nocivos que a poluição por microplásticos pode provocar nos humanos e no meio ambiente. A investigação tecnológica e científica deve ser incentivada, uma vez que possibilita o desenvolvimento de soluções inovadoras e facilita a produção de novos produtos de origem mais ecológica, que podem substituir os materiais plásticos. É também essencial desenvolver mais estudos de mapeamento e modelação do transporte de microplásticos, assim como desenvolver métodos que aumentem a capacidade de deteção e a sua remoção, por exemplo, em estações de tratamento de águas residuais.

A poluição por microplásticos é um problema complexo e global, que requer soluções efetivas nas várias etapas e processos que a causam. Esta reflexão conjunta poderá ser o caminho rumo a um planeta mais sustentável, e sem plástico.

Carla Silva, investigadora do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente

Quarta-feira, 30 Agosto 2023 11:53


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