Os desafios atuais da crise climática

A presidente da direção nacional da Quercus, Alexandra Azevedo, reflete sobre a economia circular.

Os desafios atuais da crise climática

Os elementos que caracterizam o clima, a temperatura, a pressão atmosférica, as precipitações (chuva, neve e granizo) e os ventos, têm mudado muito ao longo da também longa existência do nosso planeta. Apesar da curtíssima existência da espécie humana, comparativamente à “idade” do planeta, tem-se verificado o quanto a sua atividade e relação na Natureza podem influenciar estes elementos.

Testemunhos que chegaram até aos nossos dias mostram-nos um rasto de desertificação em regiões do planeta onde outrora existiram florestas luxuriantes e prosperaram civilizações avançadas, colapsaram, à medida que escasseavam os recursos naturais para as sustentar, como madeira, água e terra arável. São disso exemplo o atual Egito, o Médio Oriente, a Região Mediterrânica, ou a muito referenciada ilha de Páscoa. O que muda agora? O que muda agora é a escala planetária, devido ao poderio tecnológico que alcançamos.

Porque a Natureza é intrinsecamente abundante, quem cria a escassez são as atividades humanas destrutivas que resultam em desastres ecológicos.

Por isso, são também já muitos os exemplos de como é possível inverter o ciclo de autodestruição: em novas práticas agroecológicas emergentes (como agrofloresta e agricultura sintrópica); na reeducação do gosto para os alimentos locais, sazonais, biológicos e de base vegetal; na arquitetura sustentável que integra o desenho, materiais de construção, sistemas de poupança e aproveitamento de água, tratamento de resíduos, autoprodução de energia renovável e espaço verde envolvente biodiverso; vários projetos de recuperação ecológica; em formas de desenvolvimento local/regional que promovem a economia solidária.

Importa ainda refletir sobre a tão falada economia verde ou economia circular, pois, é necessário questionar o atual modelo ainda dominante de sobreconsumo, desde logo pelos vários constrangimentos de ordem técnica. De facto, a manter-se uma oferta no mercado de constantes novos modelos e novas funcionalidades, que nos ínsita e alicia ao consumo (efeito de “brinquedo novo”) e pelas dificuldades técnicas e logísticas, como na separação e recuperação de alguns materiais, elevados consumos de energia, transporte; a que acrescem outras estratégias, como a obsolescência programada e dificuldades crescentes à reparação, continuaremos a contribuir para o problema. Recordando Nicholas Georgescu-Roegen (1906-1994), matemático e economista: mais e melhores bens de consumo, produzem mais e melhores resíduos. Também é bom saber que mais consumo não é sinónimo de maior felicidade, por isso mais do que uma questão de justiça social e planetária, é do nosso próprio interesse saber avaliar o que são realmente necessidades.

O desafio é, então, a construção de uma consciência ecológica integral, para nos conectarmos à Natureza. Um processo dinâmico no plano individual com reflexo no coletivo. Políticas públicas mais coerentes são uma parte neste processo para se alargar critérios ecológicos na gestão do território, desde um simples canteiro numa escola ou jardim público, a miniflorestas urbanas, à manutenção de infraestruturas, com destaque para vias de comunicação e linhas elétricas) e promover mudança nos processos produtivos e comportamentos. No fundo, ajustar a nossa forma de viver.

Alexandra Azevedo, presidente da direção nacional da Quercus

Quarta-feira, 13 Dezembro 2023 10:18


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