Pescadores pela sustentabilidade do oceano

Os pescadores são guardiães do oceano. É o presidente da Docapesca, Sérgio Faias, que assim os descreve, a partir da experiência do projeto A Pesca por um Mar sem Lixo.

Pescadores pela sustentabilidade do oceano

Vinte e dois portos. Cerca de quatro mil pescadores envolvidos. Mais de nove mil metros cúbicos de resíduos recolhidos. É este o balanço, em junho de 2023, do projeto A Pesca por um Mar sem Lixo, lançado em 2015 pela Docapesca a partir da identificação da necessidade de o setor pesqueiro contribuir para um oceano mais saudável e mais limpo. 

É o presidente da empresa responsável pela administração dos portos de pesca, Sérgio Faias, que faz o enquadramento desta iniciativa lançada em 2015, como piloto, em Peniche: “Ao longo dos anos, houve pouco cuidado com a preservação do mar e sendo a comunidade piscatória um dos principais beneficiários dos produtos do mar, começou a existir a preocupação dentro da própria comunidade. Acabámos por ser o porta-voz dessa preocupação.” 

Assim, o primeiro passo é dado com o envolvimento das comunidades piscatórias, dos municípios abrangidos por cada porto e das empresas ligadas ao encaminhamento de resíduos. O projeto materializa-se, depois, em ações de divulgação e de sensibilização, com distribuição de equipamentos que permitam colocar em prática o objetivo de um mar sem lixo: são contentores ou sacos, dependendo da dimensão da embarcação, que permitem que a tripulação faça a separação dos resíduos, sendo que, nos portos, foram colocados reservatórios para esses mesmos resíduos. Em causa estão os resíduos produzidos a bordo, garantindo, deste modo, que não vão parar ao mar. Mas, também, o lixo que é capturado nas artes de pesca, que, agora, em vez de ser devolvido à água, é recolhido, separado e, posteriormente, encaminhado para valorização. 

O sucesso do projeto-piloto levou ao alargamento progressivo, a partir de 2016, sendo que, até final deste ano, é expectável que os principais portos estejam abrangidos. São 25. Mas, Sérgio Faias realça que igualmente importante é manter o programa dinâmico, no sentido de não se perder o que já foi conquistado. 

Há, pois, que avaliar e manter a proximidade aos pescadores. A propósito, nota que é visível o orgulho que exibem quando hasteiam na embarcação a bandeira que atesta a sua adesão, bem como quando usam a t-shirt e o boné que lhes são distribuídos, personalizados de acordo com cada porto: “Envergam literalmente a camisola”, comenta.

A prova disso é a adesão de cerca de quatro mil pescadores, que, nas contas da Docapesca, representam uma boa parte do contingente nacional. O administrador reconhece que, no início, algumas comunidades poderão ter estranhado, mas depois de perceberem o âmbito da iniciativa, logo aderiram. Para isso contribuirá a proximidade da empresa com a comunidade piscatória: “Há mais de 60 anos que trabalhamos com a pesca, conhecemos os atores e os agentes económicos. Tendo a capacidade de falar com os pescadores, com os armadores, com os dirigentes associativos, facilmente conseguimos transmitir a mensagem e muito rapidamente perceberem que o projeto os beneficia.”

A  adesão resultou na recolha de cerca de 3.000 m3 de embalagens e de mais de 6.000 m3 de resíduos indiferenciados, com Sérgio Faias a salientar que mais de 80% adesão resultou na recolha de cerca de 3.000 m3 de embalagens e de mais de 6.000 m3 de resíduos indiferenciados, com Sérgio Faias a salientar que mais de 80% do lixo não provém da atividade piscatória, sendo produzido em terra e levado para o oceano através dos rios e outros canais. “Naturalmente que a atividade de pesca, como qualquer atividade económica, acaba por ter os seus impactos. Existem sempre artes de pesca que se perdem, principalmente em situações de mau tempo. Mas, maioritariamente, estamos a falar de outros resíduos, muitos plásticos, muitas embalagens”, nota. 

Nem sempre é possível recolher todos os resíduos, por condicionalismos que se prendem, quase sempre, com o tamanho das embarcações. Para ultrapassar este obstáculo, foi desenvolvida uma aplicação móvel, que permite, a partir de uma fotografia, identificar as coordenadas geográficas dos recursos localizados, as quais ficam numa base de dados, sendo que qualquer pescador os pode recolher se passar na zona. Colocar a tecnologia ao serviço do projeto é também uma forma de atrair as gerações mais jovens. 

O presidente da Docapesca não tem dúvidas de que os pescadores estão cada vez mais sensibilizados para as questões ambientais. Sabem que a sustentabilidade da sua própria atividade depende da preservação do oceano.

Quarta-feira, 23 Agosto 2023 11:56


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