2050.Briefing | Como surgiu a ideia de criar o movimento SeaTheFuture?
Assunção Loureiro | A ideia teve dois pontos de partida: a aceleração das alterações climáticas e a urgência em despertar consciências para o facto de o oceano ser o nosso maior aliado nesta batalha, facto para que as empresas genericamente começam a despertar à escala global.
A estes dois desígnios soma-se o facto de haver inúmeros projetos de conservação da biodiversidade, de impacto comprovado, com grandes dificuldades financeiras e que trabalham sob condições adversas para salvar e conservar ecossistemas fundamentais para a sustentabilidade do planeta e da vida tal como a conhecemos.
A ideia surge, então, como resposta à necessidade de agir para proteger e salvaguardar o oceano. Queremos dar às pessoas e às empresas a inspiração, a literacia e as ferramentas paras contribuírem de forma mais eficiente para iniciativas de impacto.
Qual o balanço deste primeiro ano de atividade?
Criar de raiz uma plataforma com pressupostos tão claros – despertar consciências, aproximar pessoas e empresas da biodiversidade do oceano, incentivar ação e promover o rastreamento live de fundos – foi ainda mais desafiante do que imaginámos. Lançámo-nos com apenas dois projetos, sem termos um protótipo para mostrar, e hoje temos dez projetos em dez países diferentes. A sensação é que lançámos a SeaTheFuture há muito mais do que 12 meses por tantas conquistas que fomos conseguindo e que são as fundações para as grandes vitórias que estão para vir.
Hoje, protegemos mais de 22 espécies marinhas, incluindo habitats como corais e mangais. Lançámo-nos com uma comunidade de pouco mais de 20 pessoas – entre equipa inicial e alguns parceiros – e hoje somos mais de 13.000 entusiastas do oceano espalhados pelo mundo, unidos para apoiar o trabalho dos biólogos e cientistas que são os verdadeiros agentes de mudança no terreno.
O que motivou o facto de o primeiro projeto a atuar em território nacional ser dedicado aos cavalos-marinhos do estuário do Tejo?
A integração deste projeto na SeaTheFuture, mais do que uma escolha, foi o resultado de uma candidatura bem-sucedida. O projeto dos cavalos-marinhos candidatou-se através da plataforma e, uma vez terminado o processo de seleção, verificámos (com muito orgulho) que cumpria todos requisitos necessários para integrar a SeaTheFuture.
Dada a evolução do nosso processo de seleção, e o facto de hoje termos já uma quantidade de iniciativas que proativamente se candidata na nossa plataforma, acreditamos que em breve poderemos ter mais projetos a juntarem-se a nós.
Qual a importância de as marcas se juntarem a esta iniciativa?
Se um dos pressupostos da SeaTheFuture é aproximar as pessoas ao oceano e à sua biodiversidade, as marcas têm um papel decisivo pois ao apoiarem a nossa missão pois, não só cumprem as suas obrigações corporativas e de ESG, como têm um efeito catalisador nos seus colaboradores, comunidades e consumidores. Se as marcas são geradoras de uma cultura e de uma consciência, serão certamente um braço determinante na amplificação da mensagem de que o oceano é vital para o futuro do planeta e dos ecossistemas.
Os indicadores do ano inaugural e a adesão são encorajadores, até porque a nossa abordagem é relativamente recente e fomos já proativamente abordados por algumas marcas. Estamos a contar com uma progressiva adesão por parte de empresas com uma forte componente de ESG e conscientes da importância de ações concretas no sentido de assegurar um Planeta saudável. Marcas do setor automóvel, turismo, educação e moda como a KIA, do Grupo Astara, a agência de viagens portuguesa Go Discover, a icónica marca de moda e lifestyle sustentável +351 e a escola de comunicação especializada em conteúdos World Academy são insígnias que já se juntaram ao movimento com iniciativas especiais de angariação de fundos e sensibilização dos seus clientes, colaboradores e comunidades para a conservação do oceano.
De que forma as pessoas podem apoiar este movimento global?
É simples. Podem começar por visitar-nos em https://seathefuture.eu/ e a seguir-nos nas redes sociais. Depois é explorarem e encontrarem um projeto que as toque – seja pelo seu lugar no mundo, pela espécie que protege ou pela sua filosofia e missão – e doar, contribuir.
As pessoas podem apoiar através de doações diretas ou da compra de produtos sustentáveis, produzidos segundo uma avaliação rigorosa das diferentes fases da vida do produto (Life Cycle Assessment). Assim, ajudam-nos a levarmos mais longe a mensagem e a missão desses projetos, a angariar mais fundos e a, juntos, termos mais impacto.
Quais os projetos planeados para o futuro?
O futuro passa essencialmente por três vetores – a escalabilidade, a aposta em construir novas perceções e, claro, novos lançamentos e parcerias.
Na escalabilidade vamos apostar em mais comunicação no mercado global: a grande maioria das doações e parcerias ainda vem de Portugal e de Espanha, mas acredito que em pouco tempo poderão vir a ser ultrapassadas pelos Estados Unidos, a Alemanha ou a Holanda, onde a adesão e interesse têm sido crescentes. O Canadá e a França também começam a ter alguma expressão.
Penso que ainda é cedo para definir padrões, mas já levantando o véu, os doadores ou entusiastas mais jovens que se identificam com a causa contribuem mais pontualmente e talvez sejam mais ativos a partilhar e a dar visibilidade aos projetos que apoiamos nas redes sociais, enquanto as subscrições mensais – lançadas no final do ano passado- vêm de países culturalmente mais vocacionados para a filantropia e que os seus cidadãos escolhem de forma muito natural uma causa. Tendo em conta estes fatores, já começamos a ativar uma rede de advocates digitais em mercados-chave, só para começar.
Em matéria de novos lançamentos, estamos com um pipeline muito relevante. Em breve estará disponível para os consumidores a edição especial da t-shirt +351 e SeaTheFuture, naquela que será a nossa primeira coleção cápsula. A marca “designed in Lisbon” juntou-se à celebração da SeaTheFuture e à inclusão do primeiro projeto nacional na plataforma e a venda da t-shirt que celebra os cavalos-marinhos do Tejo apoiará as campanhas em curso.
Simão Raposo