Tecnologia e sustentabilidade: os desafios inerentes

O Chief Sustainability Officer da Nova School of Business and Economics e Executive Director da UNITAR | CIFAL Cascais, Luís Veiga Martins, fala sobre os desafios da ligação entre sustentabilidade e tecnologia.

Tecnologia e sustentabilidade: os desafios inerentes

A sustentabilidade através dos inúmeros desafios associados é geradora de inovação em diferentes domínios não se cingindo apenas a produtos, mas estendendo-se também a nível de processos, operação, produtos e naturalmente novas tecnologias que poderão vir a dar resposta em diferentes e inúmeras áreas onde ainda precisamos de soluções e respostas.

Um dos exemplos mais notáveis de tecnologia é a transição para fontes de energia limpa ou renováveis como a solar fotovoltaica, a eólica onshore e offshore entre outras. O desenvolvimento tecnológico que tem vindo a acontecer, com sistemas mais eficientes e de menor custo, tem impulsionado esta transição. Porém existem vários desafios associados começando por destacar o das matérias-primas utilizadas que, em muitos casos, a segurança de fornecimento não se encontra salvaguardada tanto devido a uma eventual escassez futura como a localização das mesmas, por vezes em regiões que suscitam desafios geopolíticos (a dependência da UE da China relativamente a matérias-primas para a energia eólica, a energia fotovoltaica e as baterias de iões de lítio é de mais de 40%). A aceitação pública de novos parques fotovoltaicos ou eólicos tem vindo a ser cada vez mais difícil com as populações e as associações de defesa do ambiente a manifestarem-se contra exigindo a minimização dos impactos. No final da vida útil dos equipamentos há que garantir a sua valorização pois o aterro não é mais a solução, o que por si só pode ser uma oportunidade de inovação tecnológica (por ex. a reciclagem das pás das turbinas eólicas, é vista como um dos principais desafios – fibra de vidro, fibra de carbono ou diferentes resinas são os componentes principais e separá-los para valorização por reciclagem é difícil e caro).

A CCS (Carbon Capture and Storage) é outro exemplo de uma tecnologia que terá um papel determinante nos objetivos de neutralidade carbónica, complementarmente ao sequestro feito pelas plantas.  A redução das emissões não é suficiente. Para atingirmos as ambições climáticas será necessário também capturar, utilizar e armazenar o carbono. Embora as emissões de CO2 provenientes da queima de combustíveis tenham vindo a diminuir na Europa, várias indústrias têm emissões inerentes de CO2 resultantes de processos industriais de elevada intensidade energética. A CCS pode dar um contributo fundamental para a redução das emissões destes sectores. Pode também ajudar a remover o carbono da atmosfera através de Bio-energy Carbon Capture and Storage (BECCS) e a Direct Air Carbon Capture and Storage (DACCS) e constituir uma plataforma para a produção de hidrogénio com baixo teor de carbono. Porém os desafios ainda são inúmeros. Desde logo a capacidade e segurança do armazenamento (uma vez que este deverá ser feito em formações geológicas adequadas para garantir que o CO2 capturado e armazenado permanece isolado da atmosfera a longo prazo) e o processo de captura, transporte e armazenamento não apresentem outros riscos para a saúde humana ou ecossistemas. Os custos de investimento e de operação ainda são extremamente elevados levando a que a viabilidade económica ainda esteja dependente do preço do carbono, dos preços do petróleo e do financiamento e incentivos públicos (a União Europeia tem vários programas de financiamento dedicados ao CCS). Acrescem ainda um conjunto de riscos associados ao facto de estarmos perante uma tecnologia numa fase ainda de construção de um modelo de negócio sustentável.

O conceito de sustentabilidade é extremamente vasto e transversal. Os 27 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) indicam onde queremos estar em 2030. Neste momento, apenas 15% dos ODS estão no bom caminho para 2030. Ainda não estamos na rota onde deveriamos estar para alcançar o Acordo de Paris. A inovação tecnológica é uma das respostas e irá continuar a ter um papel determinante para que, apesar dos inumeros desafios associados, possamos pensar num futuro mais sustentável a nível económico, ambiental e social.

Luís Veiga Martins, Chief Sustainability Officer da Nova School of Business and Economics, e Executive Director da UNITAR | CIFAL Cascais

 

Segunda-feira, 08 Julho 2024 11:26


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