Segundo o relatório “Estado do Clima Europeu 2022”, a temperatura no ano anterior esteve 0,9ºC acima da média, sendo que este aumento é duas vezes superior ao resto do mundo. No mesmo documento, é destacado o facto de terem sido registados os valores mais elevados nos mares da Europa.
O estudo, da responsabilidade do Serviço de Monitorização das Alterações Climáticas Copernicus, refere que o verão foi o mais quente de sempre, tendo sido uma temperatura 1,4ºC do normal. A explicação para esta situação é existência de fenómenos climáticos extremos, como ondas de calor intensas, condições de seca e incêndios florestais extensos, sendo que 2022 foi o ano em que os países europeus tiveram a segunda maior área ardida de sempre. O serviço de observação revela também que o continente está a assistir a uma tendência ascendente do número de dias de verão com “stress de calor forte” ou “muito forte” e no sul do território já existe “stress de calor extremo”.
Outra das estações que leva ao aumento da preocupação é a primavera, em que a precipitação ficou abaixo da média, nomeadamente no mês de maio, que teve a menor quantidade de chuva de sempre.
No que diz respeito ao contexto português, o meteorologista refere que os cenários climáticos apontam para o aumento da temperatura em Portugal Continental e, tendo em consideração vários cenários socioeconómicos e de emissões, as projeções para o final do século XXI indicam um aumento de temperatura média do ar de 2˚C. Acrescenta ainda que este aumento será maior nas regiões do interior.
Em relação às energias renováveis, as notícias são mais positivas, sendo que a Europa recebeu a maior quantidade de radiação solar de superfície em quatro décadas. Isto fez com que tenha havido um aumento na capacidade de gerar energia solar fotovoltaica. Já a velocidade média anual do vento na Europa manteve os valores dos últimos 30 anos.
Ricardo Deus acredita que as alterações climáticas constituem um problema global e complexo e que “a mitigação só é possível com medidas regionais aplicadas globalmente, afetando e mobilizando a generalidade dos países, especialmente os grandes emissores de gases de estufa”.
O diretor do IPMA deixa uma previsão para o futuro, dizendo que, tendo a conjugação da persistência de valores de precipitação inferiores ao normal e de valores de temperatura muito acima do normal, a consequência possível será a ocorrência de “valores altos de evapotranspiração e valores significativos de défice de humidade do solo, levando novamente ao agravamento da situação de seca”.