Imagine que um quarto de hora é suficiente para aceder a qualquer dos seus compromissos diários, sem necessidade de usar o carro. Habitar, estudar, trabalhar, ir às compras, a um serviço de saúde ou assistir a um espetáculo sempre num raio de 15 minutos a pé ou de bicicleta. É esta a base das cidades de 15 minutos, nascida na COP21, o encontro das Nações Unidas que deu origem aos acordos climáticos de Paris, em 2015, e que foi uma das bandeiras de Anne Hidalgo na sua reeleição à Câmara Municipal de Paris. O pai do conceito é o urbanista colombiano Carlos Moreno, que está a assessorar a implementação deste ambicioso plano que a capital francesa tem projetado até 2025.
A estrutura deste modelo combina quatro componentes: densidade, proximidade, diversidade e digitalização. No que diz respeito à densidade, Carlos Moreno cita o trabalho do matemático Nikos Salingaros, segundo o qual existe uma densidade ótima para o desenvolvimento urbano, encorajando soluções locais para problemas locais.
A proximidade diz respeito tanto ao espaço quanto ao tempo. Numa sociedade cada vez mais “pobre de tempo”, ter tudo o que aquilo de que se precisa nas proximidades ajuda à qualidade de vida e reduz a quantidade de espaço e tempo necessários para cada atividade. Também o impacto ambiental não é despiciendo. Simplificando, menos carros significam menos poluição.
A diversidade refere-se ao desenvolvimento de uso misto e facilitação de bairros diversos e multiculturais, os quais podem melhorar inerentemente a experiência urbana e aumentar a participação da comunidade nos processos de planeamento.
Já a digitalização surge no seguimento dos “avanços gigantescos” na tecnologia a que se chamar “Quarta Revolução Industrial”, que deram acesso a um mundo conectado e virtual. A comunicação e as compras online tornam tudo acessível, direta e facilmente a partir de casa.
Quando estes quatro componentes se combinam em grande escala, o resultado são cidades acessíveis, verdes e sustentáveis, proporcionando maior qualidade de vida para todos os que nelas vivem.
Se Paris está na frente no que diz respeito a estas cidades descentralizadas, policêntricas e de múltiplos serviços, que visa melhorar substancialmente a qualidade de vida, outras há que lhe seguem os passos. É o caso de Milão, Valência, Edimburgo, Montreal, Melbourne e Buenos Aires.
E em Portugal? Aveiro é uma das cidades com potencial, uma vez que quase todo o seu território se encontra à distância ciclável ou a pé de 15 minutos, e Lisboa tem já alguns estudos nesse sentido. Entre as 24 freguesias da capital, foram selecionadas sete (Alvalade, Arroios, Belém, Benfica, Campo de Ourique, Lumiar e Marvila), para uma análise em que foi possível identificar que algumas estarão mais perto do conceito, mas em que qualquer uma estará preparada para a cidade de 15 minutos.
Carlos Moreno, professor universitário e especialista em urbanismo