Briefing | O que a levou a lançar o Prémio Comunicação Corações Capazes de Construir?
Catarina Furtado | O prémio faz parte do conjunto de projetos do nosso Plano de Atividades enquanto associação e organização não governamental para o desenvolvimento que têm ver com a nossa intervenção em matérias de educação, informação, comunicação e advocacy porque acreditamos que desta forma ajudamos a promover e a construir um país mais justo e solidário onde os Direitos Humanos sejam tema de informação. Acreditamos na educação para a cidadania e para os Direitos Humanos e os meios de comunicação têm um papel fundamental nessa construção conjunta.
O prémio é um incentivo aos jornalistas e às agências de publicidade e comunicação para que se debrucem mais sobre estas questões. Agregar o prémio à realização das conferências anuais (este ano será a terceira), bem como às campanhas que desenvolvemos e a que nos associamos, parece-nos uma forma de ir consolidando a associação, a par de outros projetos de intervenção direta na sociedade (atendimento gratuito, atribuição de bolsas de estudo a raparigas com bom aproveitamento escolar mas com imensas dificuldades financeiras, entre outros). Só essa consolidação nos permitirá apoiar um maior número de jovens e mulheres, numa perspetiva de igualdade de género e oportunidades e no combate à discriminação e violência, os verdadeiros objetivos da Corações Com Coroa.
Briefing | Quais os objetivos da associação com esta iniciativa?
CC | A ideia é valorizar, no sentido de destacar a sua realização, os trabalhos jornalísticos e de campanha que, com melhor qualidade, reportem temas e assuntos que são caros à associação e que, no fundo, são o seu objeto e a razão da sua existência: os Direitos Humanos, o desenvolvimento, a discriminação, a violência com base no género, a inclusão social. Também desejamos que essa seja uma forma de chamar a atenção dos próprios meios de informação para esses assuntos que são tão sistematicamente remetidos para segundo plano nas agendas e nas opções editoriais. Achamos que a responsabilidade dos meios de comunicação é muito grande na construção de um país mais igualitário e informado e por isso estamos assim à disposição de trabalhar em conjunto.
Briefing | Uma das categorias é Jornalismo. Diria que as temáticas da igualdade e da inclusão são suficientemente abordadas no jornalismo nacional?
CC | Não são, pelo menos tanto quanto julgamos que seria necessário, nomeadamente, nos meios de informação generalistas. Os Direitos Humanos têm vindo a merecer um destaque mais generalizado, mas não são suficientemente trabalhados, o que também reflete, ao mesmo tempo, a realidade preocupante que é o seu desrespeito, tão evidente em tantas partes do mundo e até em Portugal. Sei que muitas vezes os meios de comunicação social, por questões financeiras, optam por abraçar notícias ditas “mais light”, porque as temáticas dos direitos humanos não “vendem ” tanto. A meu ver temos de tentar contrariar esta tendência sob pena de deixarmos os grandes valores da cidadania, igualdade e solidariedade completamente esquecidos o que nos transformará numa sociedade cada vez mais umbiguista.
Briefing | A outra categoria é Campanha. Em que medida é que as agências criativas podem contribuir para a difusão destes mesmos valores?
CC | Num registo, evidentemente, diferente daquele que é próprio do jornalismo, as campanhas podem ter e têm, frequentemente, um papel decisivo na consciencialização das pessoas para os problemas, nomeadamente, para aqueles que mobilizam uma associação como a Corações Com Coroa.
Briefing | Qual a importância da parceria com a Sonae MC para a realização destes prémios?
CC | A parceria com a Sonae MC tem, para nós, uma importância vital, uma vez que foi o seu patrocínio de princípio e pecuniário que garantiu a atribuição dos prémios na sua primeira edição (o ano passado) e que garantirá a deste ano. O nosso desejo é que o seu apoio se mantenha no futuro.
Briefing | Na sua opinião, as empresas estão sensibilizadas para estas temáticas ou ainda há muito trabalho a fazer?
CC | Há muito trabalho a fazer na área da responsabilidade social das empresas. Todos, individualmente e em coletivo, temos um papel decisivo na construção da nossa sociedade. Todos podemos fazer mais desde que tenhamos vontade (e uns vontade política) e desde que estejamos informados. A responsabilidade social tem de estar no ADN das empresas assim como a preocupação com as questões de género (como uma maior participação das mulheres em cargos decisivos, de chefia e administração das empresas). É importante as empresas sentirem que estão a participar ativamente na construção da nossa sociedade não confundindo caridade com solidariedade.
Briefing | Que papel poderão as marcas e o marketing desempenhar a este nível?
CC | É um papel importante porque podem associar-se de um forma genuína, preocupada e criativa na passagem das mensagens absolutamente determinantes para as questões dos Direitos Humanos. Existem muito bons exemplos de parcerias felizes entre marcas e causas. A maneira como se trabalham as temáticas para que cheguem de uma forma mais eficaz à sociedade civil é fundamental e pode passar por esta parceria técnica das associações com o input do marketing. Os assuntos têm de ser bem embrulhados, com todo o rigor e seriedade, mas com uma boa dose de originalidade e capacidade de comunicar. Aproveito para convidar os leitores da Briefing para partilharem a Campanha “Continuamos à espera” no FB e para que nos façam uma visita no site da Coracoescomcoroa.org e, quem sabe, decidam fazer-se sócios ou sócias…