“AC.
Antes de Covid-19
Era sexta-feira, por volta das cinco e meia da tarde. Despedi-me com um ‘See you on Monday’, peguei na mala e no portátil e saí da agência. Entrei no metro, meia dúzia de pessoas com máscaras e o resto com olhar desconfiado. Vinte minutos mais tarde, saí do metro, entrei no infantário para ir buscar o miúdo. Decidimos ir jantar ao mesmo japonês de sempre, não havia fila, o que foi estranho. Apanhámos o metro e fomos para casa.
Este foi o último dia antes de ser decretada a quarentena. Tinha-me despedido na semana anterior, depois de um ano e qualquer coisa na Huge. Sinto que acabei uma relação por SMS, sem um beijo ou um abraço. Deixei as minhas plantas, as minhas gavetas cheias de blocos de notas e canetas, tudo meticulosamente organizado que espero voltar para ir buscar. Passaram-se mais de cinquenta dias.
- DC.
Depois de Covid-19
Aterramos em Milão. Conduzimos até Lugano na Suíça e entramos na casa nova com jardim, vista para o lago e com os Alpes ao fundo — é assim que imagino a nossa futura casa.
Amanhã é segunda-feira, sinto como se fosse o primeiro dia de escola. Estaciono. Entro no edifício e solto um ciao, como se o meu vocabulário em italiano fosse mais do que cinco palavras. Tenho um dia preenchido entre reuniões e apresentações. Pelo caminho apanho o tagarela, que me conta como foi o primeiro dia de escola. Chegamos a casa. Abro uma garrafa de vinho e falamos durante horas.
É assim que imagino o meu primeiro dia na Vans.
A realidade é que estou em Londres, na minha casa. Partilho a secretária improvisada com outra agência. Visto-me. Faço um café. Faltam cinco minutos. Sento o Batman ao meu lado a pintar. Ligo a webcam dois minutos antes para ter a certeza que está tudo a funcionar, reparo que um livro a atrás de mim não está alinhado. Desligo, alinho o livro, abro a janela e volto a conectar-me. Ciao, come stai?”.