A opinião de… Matilde Silva Gomes

A Head of Strategy da LOLA Normajean aborda o coletivo The F Side e o papel que tem na indústria criativa.
A opinião de... Matilde Silva Gomes

Não houve nenhuma mulher publicitária em Portugal que não se tenha entusiasmado muitíssimo com a perspetiva do que pode vir a ser o The F Side desde a primeira hora.

Um colectivo de mulheres para mulheres e por mulheres. Uma iniciativa (pela qual dou os sinceros parabéns) que criou um verdadeiro ‘safe-space’ para mulheres, fosse ele com o intuito de aumentar o número de criativas no setor, ou de partilhar histórias que não tivessem até aqui um local para partilha anónima. A falta de presença de mulheres nas equipas criativas deve ser tema de conversa. O assédio moral e sexual nos locais de trabalho, revelando de alguma forma uma realidade da qual tantos têm estado distantes e protegidos, também deve. Imagino eu que o fim que se procura atingir seja o de melhorar a nossa indústria como um todo e garantir que todas as pessoas que dela fazem parte se sentem ouvidas, seguras e valorizadas.

Precisamente por estar de acordo com tudo o que acima refiro, decidi partilhar a minha opinião.

A polémica que se gerou em redor desta página de Instagram era expectável devido à forma precipitada como tem sido gerida. Como estratega, sem qualquer envolvimento pessoal, não posso deixar de pensar no The F Side como uma Marca com magnificas intenções, mas que pode estar a traçar o seu caminho de forma pouco credível.

Como todas as outras Marcas esta deve pensar até onde pode e deve ir, no sentido de ser estratégica e cumprir com os seus objetivos: agregar para esta causa o maior número de pessoas (diria eu) de forma a educar, influenciar mentalidades e, por consequência, fazer com que este setor evolua para algo que encaixe melhor com o que se espera em 2024.

Quanto mais anticorpos criar seja por incoerências ou exageros, menos pessoas verão a marca com credibilidade, e menos serão impactadas da forma pretendida, ou se unirão à causa. E, com o tempo, pode cair por terra uma ideia forte e importante por ações e reações impulsivas. Estas acabam por se traduzir num impacto momentâneo face ao potencial de maior intervenção que o The F Side poderia ter com uma abordagem bem ponderada.

Fazer uma afirmação incorreta num palco do CCP não pode acontecer. Responder bem a comentários positivos e não responder com a mesma elegância a comentários mais provocadores ou críticos, também não. Fazer com que comentários sem maldade soem depreciativos não é uma boa estratégia. A principal razão pela qual não é, é que ao darem importância a algo insignificante, diminuem a importância de histórias partilhadas com acusações, de facto, graves. Se tudo for ‘grave’ o que realmente o é perde relevância.

Para ter a dimensão e o impacto de uma grande Marca que merece ser, é preciso, na minha opinião, um comportamento que se adeque e inspire confiança e credibilidade. Isto não significa, de forma alguma, ser menos arrojado. Significa apenas tratar este coletivo como se trataria de uma Marca Cliente. Com transparência total mas com ponderação no tom. E inclusive, engolindo alguns sapos ou contendo algumas partilhas para que a marca perdure no tempo e para garantir que é ouvida, promovendo uma conversa mais positiva do que negativa.

Gostaria que o The F Side fosse aquilo que se propôs a ser de início, e que sei que até é na sua essência. Dando uns passos atrás e substituindo o mindset de ataque e defesa por um mindset de safe-space e mudança positiva, esta plataforma pode perdurar no tempo.

Matilde Silva Gomes, Head of Strategy da LOLA Normajean

Quinta-feira, 06 Junho 2024 14:16


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