A Covid-19 trouxe múltiplos desafios, tanto às marcas como às empresas. E, se formos ainda mais específicos, à gestão e à estratégia de comunicação em social media, dedicada a trabalhar diariamente na criação de conteúdo pertinente e coerente com o contexto que se vive.
Esta premissa é, agora, mais relevante do que nunca: o “conteúdo é rei”, mas a pandemia trouxe uma maior necessidade de criatividade e verdadeiro sentido de propósito ao conteúdo produzido, quase num sentido de missão. O storytelling em cada branded post, além de ser um desafio criativo constante, tem de fazer ainda mais sentido, estar ajustado à realidade e à marca, mas sem nunca esquecer o seu posicionamento e tom de voz. Se for despropositado, mais vale nem escrever. Além disso, o conteúdo tem agora de provocar algum tipo de reação no leitor, adormecido com a quantidade de notícias com que é impactado a cada scroll.
De um momento para o outro, todos os conteúdos criados no dia anterior deixaram de fazer sentido, e a velocidade com que estes canais nos permitiram mudar o mindset foi, e é, incrível.
Claro que vimos muitas marcas a falhar, com desajuste da realidade, mas muitas outras ganharam um propósito maior. Fomos invadidos pela vontade de fazer o bem, de ajudar o próximo, e as redes sociais revelaram-se o meio mais rápido e, acima de tudo, mais eficiente para o fazer. Se ainda existiam marcas para as quais as redes sociais eram um canal secundário, em março de 2020 isso mudou radicalmente. Observámos fenómenos inexplicáveis de livestreams, que juntaram diariamente mais de 80 mil pessoas, e o impacto que a comunicação veiculada nesses meios teve em cada um de nós era tal que nos dava vontade de agir. Também os influenciadores e celebridades encararam este sentido de missão, passando a transmitir mensagens verdadeiramente poderosas face ao que estávamos a viver.
E muitos fizeram a diferença. Outros, nem tanto.
Começámos a normalizar o lado menos bom da vida, assistindo a uma maior transparência na comunicação, menos dedicada à perfeição e mais à vida real. Os feeds são agora menos polidos e as pessoas sabem que nem tudo é perfeito: o teletrabalho, os filhos em casa, a realidade de dias mais difíceis viu-se refletida em centenas de posts. O fenómeno foi mundial, porque, pela primeira vez, todos experienciamos o mesmo.
No entanto, este crescimento no consumo das redes sociais também teve o seu lado negativo. Se, para algumas pessoas, este meio permitiu combater a solidão e o isolamento, para outras, a imensidão de informação, a desinformação e a alienação na comunicação de algumas marcas com conteúdo despropositado provocaram o afastamento de algumas plataformas. Este desacreditar levou, de certa forma, ao interesse por outras, que proliferaram nesta altura de pandemia, com maior foco no entretenimento e com conteúdo mais leve, mais divertido e mais real, como o Tik Tok. Ou, por exemplo, o Clubhouse, em que as pessoas sentem que encontram conteúdo mais significante e exclusivo.
É expectável que o consumo de redes sociais diminua após a pandemia, mas será com certeza superior ao que era antes. As redes sociais estão profundamente enraizadas na nossa vida, mais do que nunca. Há comportamentos que vamos manter, e as redes sociais farão parte deles. O mais provável é que olhemos para as redes sociais de forma mais leviana, e que, no fundo, sejam menos tóxicas e que sirvam um propósito muito mais positivo. Pelo menos, assim o esperamos.
Estela Bento, Head of Social Media na BY – Interactive Brands Agency