#ALENTE DE…Enrique Escamilla fá-lo querer editar os pedaços aborrecidos da realidade

 

Escritor, inventor ou… realizador. Enrique Escamilla sempre quis uma profissão que lhe permitisse sonhar. Um “luxo”, admite. A mãe, conta, sempre estimulou muito a sua imaginação. Orientou-o a querer “criar mundos”. A realização surgiu, pois, de uma forma natural na vida do mexicano de 36 anos. Depois foi ficando “obcecado” com a possibilidade de corrigir a realidade e querer controlá-la. “Sempre me senti insatisfeito com a realidade – não com o realismo – e cedo tive a obsessão de readaptá-la, de pôr-lhe um soundtrack, editar e tirar os restos mais aborrecidos”.

 

A publicidade surgiu mais tarde. Em dois momentos: o primeiro, já na faculdade de cinema, no México, foi encontrar o trabalho de Jonathan Glazer e “perceber que havia mais do que hard selling”. O segundo foi já em Portugal, para onde veio em 2006 em intercâmbio para a Escola Superior de Teatro e Cinema, e de onde não mais saiu.

Nesse mesmo ano, inicia o estágio na Garage, de onde também não mais partiu, e com a qual trabalha como realizador desde 2008. “O segundo momento foi quando conheci a Cláudia Costa, o João Nuno e o Miguel Varela e percebi que a Garage podia oferecer-me os valores aos quais aspirava”, revela. Desde então foram muitas as marcas para as quais realizou filmes publicitários. Mitsubishi, Coca-Cola, MEO, Vodafone, Sumol, Galp ou NOS são apenas algumas. O primeiro, ainda era estagiário, valeu-lhe uma noite fechado com a equipa num McDonald’s, entre o cheiro a Big Mac e a sua inexperiência. Entre esse trabalho para a cadeia norte-americana, com a TBWA, e o último, para o BPI e a Federação Portuguesa de Futebol, com a Partners, tem filmado no estrangeiro de forma regular, seja para o mercado português ou para o mercado internacional. Com passagens pela Roménia, África do Sul, França, Alemanha, México, Estados Unidos e Brasil, só para nomear alguns países.

Não há, porém, experiência que lhe valha quando o que está em causa são as reuniões de pré-produção. Continuam a ser o seu calcanhar de Aquiles. “Entro sempre numa PPM como se entrasse numa prova oral do liceu. Sou um desastre, engasgo-me, tremo… Epá até tenho vergonha de falar nisso”, confessa.

A modéstia continua: entende que, mesmo anos passados, continua a cometer “todos” os erros. “Até porque acredito que estamos destinados a cometer os mesmos erros em distintos cenários, mas principalmente em PPM”, afirma. E quando questionado sobre o que é preciso para ser um bom realizador de publicidade, a resposta não podia ser outra: “Ser muito bom nas PPM”.

Enrique não sabe se existem qualidades específicas para se ser realizador de publicidade. Reconhece, todavia, a importância da capacidade de síntese e de uma abordagem visual consistente. “Na verdade, o mais difícil é abdicar do teu gosto pessoal em prol do que funciona para determinado filme. Ter a sensibilidade de tratar uma ideia que foi construída por uma equipa criativa, abraçar essa responsabilidade e tentar fazer o melhor que podemos com essa ideia, encontrar a sua essência e sacrificar as nossas tendências a favor da ideia e do conceito”.

Certo é que a folha em branco não o assusta. Pelo contrário, entusiasma-o. O script vazio, o momento em que ainda não há orçamentos ou prazos são aqueles de que o realizador mexicano retira mais prazer dentro do processo de realização. O que mais gosta é imaginar, diz. Os seus melhores anúncios foram, pois, os que fez na sua cabeça, nesse momento. Em cafés, comboios, bares ou aviões. A possibilidade de um filme é o que mais aprecia na realização.

E rituais antes de começar a filmar? Diz que não tem, mas lá acaba por admitir que “desde que tenha maçãs verdes Granny Smith, uma bola de baseball, um livro e tabaco, está tudo ótimo”. E ainda que, tirando a experiência escolar, não tenha tido oportunidade de filmar para o cinema, acredita que o encontro com o grande ecrã está marcado. “Sem dúvida”. Desde que não falte imaginação e maçãs.

sd@briefing.pt

 

Sexta-feira, 05 Julho 2019 11:26


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