Briefing | Porque é que o Público decidiu agora avançar com a paywall?
Bárbara Reis | Criámos este novo sistema de pagamento de conteúdos digitais como forma de garantir a sustentabilidade do próprio Público. O jornalismo de qualidade exige um grande investimento. A nossa preocupação é garantir que continuamos a fazer o jornalismo que importa, o jornalismo que faz a diferença, o jornalismo profundo e independente. Queremos garantir que continuamos a fazer trabalhos com força ética, força moral e relevância pública. Dou-lhe três exemplos de trabalhos recentes: o levantamento que fizemos sobre o financiamento dos partidos para as eleições autárquicas, que envolveu uma equipa multidisciplinar da redação e no qual tivemos uma jornalista a trabalhar no tema 100% dedicada. Ou a investigação sobre os filhos dos soldados portugueses que combateram na guerra colonial e que ainda hoje procuram saber quem são os seus pais. Ou ainda as reportagens na Síria, país onde conseguimos entrar em plena guerra civil. Em quase 25 anos ganhámos mais de 200 prémios nacionais e internacionais, desde o de Melhor Jornalista ao Melhor Jornal. Este trabalho tem que continuar.
Briefing | Que resultados espera alcançar?
BR | Conjuntamente com outras fontes de receitas, a sustentabilidade do jornal.
Briefing | Como é que vai funcionar? Inspirou-se em alguma modelo estrangeiro?
BR | O leitor passa a ter uma total liberdade de escolha no site. Todos os conteúdos, desde artigos de opinião aos temas grandes dos suplementos, passando pelas notícias de última hora, tudo está aberto e disponível no nosso site. Até hoje, era o jornal que decidia o que estava acessível e o que não estava. Agora, é o leitor quem decide o que quer ler. No site, em termos de organização, tudo continua exatamente igual e no mesmo sítio. No fundo, o site vai tornar-se muito mais interessante, porque tens mais conteúdos profundos, distintivos e únicos disponíveis. Além do acesso a todos os conteúdos sem limites, o leitor assinante tem outras vantagens claras: acesso ao arquivo do Público desde 1999. E vai poder ver qualquer um dos jornais que imprimimos nos últimos 15 anos; acesso ao Público na versão web, e nas plataformas móveis, smartphones e tablet; e acesso às páginas com o histórico de artigos de todos os jornalistas e colunistas do Público.
Durante vários meses, estudámos e analisámos o mercado internacional, as experiências e os modelos já aplicados, mas sobretudo os bastidores do nosso site. O que lêem os nossos leitores, o que vêem, a que horas, em que país, etc. Temos três milhões de visitantes únicos por mês. Nenhum jornal generalista tem tantos leitores em Portugal como o Público. Acreditamos que entre os leitores que preferem o Público está uma das formas de nos tornarmos sustentáveis.
Briefing | Como é que o Público vai convencer os seus leitores a pagar conteúdos que podem estar disponíveis gratuitamente noutros meios?
BR | Parte da resposta está acima. Mas falta uma coisa: há notícias gratuitas em todo o lado, mas no site do Público o leitor encontra conteúdos, profundos, distintivos e únicos. Notícias, reportagens, análises, artigos de opinião e entrevistas que não lê nem vê em nenhum outro site. Ver os três exemplos que lhe dei em cima.
Briefing | Acredita que o modelo de paywall é a “panaceia” para viabilizar o jornalismo digital? O futuro do projecto Público depende do sucesso do paywall?
BR | Não há uma solução única e exclusiva para encontrar a sustentabilidade de um jornal de referência como o Público. A solução é múltipla e exige um conjunto de diferentes fontes de receitas. As assinaturas digitais e o sistema de pagamento de conteúdos é uma delas, parte de uma estratégia alargada e a longo prazo que inclui a internacionalização e o desenvolvimento de novos projetos.