Para Teresas Loreto, da EDP, a resposta é óbvia: “os consumidores não estão desatentos”. Pelo contrário, “estão muito atentos, rápidos e seletivos”, o que, sustenta, “obriga as marcas a trabalhar melhor”. Também o fundador da Everything is New, Álvaro Covões, entende que “não estão distraídos”. “Há é muita oferta. E isso é bom”, diz, apontando o “grande desafio de um marketeer: passar acima dos outros e chamar a atenção”. Aqui volta a convergência com o painel da manhã do congresso organizado pela Associação Portuguesa dos Profissionais de Marketing (APPM) acerca da necessidade de as marcas captarem a atenção das pessoas.
“Trabalhar marcas é trabalhar na indústria da distração”, sustenta a propósito a CEO da Fuel, Susana Coerver, para quem, seja no digital, seja no offline, “nada supera o valor de uma boa ideia”. As que têm mais tração, afirma, são as que “são importantes para os consumidores e não para as marcas. Isso faz-se sendo relevante”. “No verão, não queremos falar de regresso às aulas ou ao trabalho quando temos os pés sujos de areia. E isso é verdade agora como há muitos anos”, observa, revelando as dificuldades que tem, muitas vezes, em fazer passar a mensagem da relevância às marcas. “Estamos a produzir muita coisa desinteressante, porque estamos a pensar no nosso umbigo e não no que é verdadeiramente relevante”, adianta.
Simplificar é, por sua vez, a receita prescrita por Pedro Brito, da NOVA SBE, para estes tempos de distração. “A liberdade de escolha é boa, mas cria, por vezes, uma paralisação no processo de escolha ou, pelo menos, diminui a sua velocidade”, comenta. “Até que ponto majoramos o tema da simplificação?”, pergunta. “A capacidade de fazer escolhas deixou de ser natural, para ser uma competência”, nota.
Jorge Xavier, da Oracle, reitera que “os consumidores parecem distraídos, mas aprenderam antes a ser seletivos”, sugerindo como fórmula para as marcas o aumento da personalização. “Em tempos em que a credibilidade da social media não é a melhor e os ad blockers aumentam, a escolha é perceber se é preferível mais quantidade ou mais qualidade”, adianta. É o “marketing B2Me”, que vê como “um sonho, que deve ser perseguido”.
Já Nuno Santos, da PSE, sugere que é importante algum distanciamento e “uma visão panorâmica de helicóptero” em relação a estes temas, apontando, numa nota positiva, que “há meio século, o rock’n’roll era o bode expiatório”. Não deixando de observar: “A tecnologia veio para ficar. Ainda não vimos sequer metade do filme. E será muito pior do que aquilo a que hoje chamamos distração”. Foi, aliás, sobre os perigos da tecnologia que versou a comunicação Tomaz Castelão, que divulgou o seu projeto ONLINE OFFLIFE. Num ato de “vandalismo com significado”, o criativo juntou 30 amigos e colou pelas ruas de Lisboa cerca de 500 cartazes com mensagens que questionam diretamente a nossa relação com a tecnologia. “Tu sorris mais vezes para selfies do que para pessoas” ou “olhas mais para o telemóvel que para o mar” são duas das 12 afirmações, que, diz, não “são um manifesto anti-tecnologia”. “São inegáveis os aspetos positivos da tecnologia. O problema é quando nos afasta”, comenta. “Tenho a certeza que alguém está no Instagram neste momento”, brincou, em forma de alerta para uma plateia de profissionais de marketing, que “certamente” não fogem à média das pessoas “passarem um dia por semana no Facebook”.