Nuno Cardoso entende que, nos últimos tempos, se assistia a uma “sistematização da comunicação”: “os mesmos métodos, as mesmas métricas, os mesmos mesmismos”. Ora, o momento atual veio mudar a normalidade vigente: “Tudo é novo, tudo é incerto, tudo é diferente. E nunca como agora a criatividade, o pensamento estratégico, a capacidade de pensar além da mesmice foi tão importante. As marcas estão à procura de relevância e pertinência. E nenhum estudo preparou os algoritmos para isto. Felizmente, temos a criatividade humana. Essa criatividade que permite transformar uma máscara de mergulho num ventilador. Um momento de dor, numa luz de esperança”.
Sobre o impacto na indústria da publicidade, considera que “ninguém sabe nada neste momento”. “Estamos literalmente às apalpadelas. Se isto demorar a passar, vai ser muito disruptivo. Se for mais rápido, pode tudo voltar ao que era. Mesmo sabendo que o teletrabalho vai explodir, que os escritórios vão diminuir, que o supérfluo se vai reduzir. Gostava de te dizer que vai mudar muito, mas agora a prioridade continua a ser salvar vidas. Vamos ver depois como salvar a publicidade”.
Do que não tem dúvidas é que o investimento publicitário “vai recuar muito”. Porque “os clientes que estavam mais pujantes, como o turismo e a restauração, já começaram a fazer contas”. “Vai doer”, desabafa: “Custa porque é a segunda vez que isto acontece num pequeno espaço de tempo. A NOSSA abriu uma semana antes de o Lehmnan Brothers cair. Já vivemos isto em 2011, 2012. Mas, temos vontade e energia para ajudar as marcas com quem trabalhamos, mesmo sabendo que vamos dar um passo atrás”.
E o que a NOSSA tem estado a fazer é “trabalhar ao máximo para responder e perguntar aos clientes”. Diz mesmo que as duas últimas semanas foram as mais intensas dos últimos anos: “Concursos que não param, telefones que não deixam de tocar, estamos com os sentidos bem despertos e com vontade de ajudar naquilo que podemos e sabemos. Com ideias. Com estratégias. E com muita dedicação”.
A perspetiva de Nuno Cardoso é a de que se esta é uma guerra, então é o momento de os planners e de os criativos irem para a frente da batalha. “Só com ideias novas, insights novos, poderemos iluminar o caminho para as marcas. Está um nevoeiro a pairar sobre a publicidade neste momento e nós temos de ser um farol”, resume.
Nuno acredita que as ideias vão ser o melhor remédio: “Tenho a certeza. Não podes fazer neste momento o que fazias antes. Não faz sentido. Não é relevante nem pertinente. As marcas têm de se adaptar. A AutoEuropa está a fazer máscaras de proteção. O IMM, que é nosso cliente, criou um teste para a COVID em muito pouco tempo. As agências terão de fazer melhor e mais rápido. Fazer omeletes sem ovos, sem frigideira e sem lume”.
A gestão é à semana. A informação não para de chegar. O que hoje parece acertado amanhã pode ser desajustado. “As agências não podem parar, porque os clientes precisam de nós. Não podemos fazer como os restaurantes, que fecham a porta e esperam apoios neste momento difícil. Nós continuamos a trabalhar. Temos de ser mais rápidos, mais ágeis, mais pertinentes do que nunca. E os clientes têm de se manter próximos. Temos de partilhar informação, dúvidas e certezas. E arriscar. Tudo agora é um risco. Até sair de casa”.
Às marcas o cofundador da NOSSA deixa uma mensagem: “Que não parem de comunicar. Não se escondam. Falem com as agências em quem confiam. Que acrescentem valor. Que tenham opiniões diferentes. Com pontos de vistas que podem não estar à frente dos olhos. Devemos falar mais do que nunca uns com os outros. Se não podemos estar juntos, não podemos parar de comunicar. Isto vai passar. E as marcas que ultrapassarem bem este momento vão ficar na memória de todos”.