Aquele que foi idealizado como um momento para se debater a sociedade atual e o fenómeno dos festivais (em conjunto com outros eventos) como forma de potenciação de comunicação ou alteração de imagem das marcas com maior poder económico em Portugal, tornou-se num encontro coletivo para os promotores poderem apresentar os seus conceitos e ideias, tentando perceber se as anteriores propostas (enviadas para as mesmas marcas por todos os promotores) foram analisadas e para, aproveitando a presença dos diretores de marca e comunicação de duas das empresas mais presentes nos festivais de música em Portugal [EDP e CGD], aproveitar para “venderem” o seu produto, conseguindo ali a “reunião” (e se possível a resposta) que muitas vezes não chega.
Aquela hora e meia foi marcante, pois indiciou muitos pontos de análise que interessam a este artigo. O objetivo do público (80% profissional, os restantes com ilusão de o ser) não era debater ou contrapor algum argumento mas sim um intuito meramente comercial de direcionar e aproveitar a chance de ter a pessoa decisora de um possível patrocínio que permita ambicionar a concretização de futuro mais desafogado nos festivais que anualmente se realizam e são feitos sempre com uma grande dose de dependência da tríade: receita bilheteira (que chega, mas a parte substâncial apenas em cima do acontecimento, tornando-se um risco sério confiar por antecipação e arriscar), financiamento público (que é complexo e bastante volátil) e patrocínios.
Ao longo destes anos fui escutando ou lendo, por diversas vezes, que aquele festival ou aquele conceito não se coaduna com a presença de marcas, mas o futuro só acontece, as edições só se sucedem esquecendo essa mesma premissa/rebeldia incial. Pesando sempre prós e contras de passar a “importunar” os festivaleiros com marcas ou não, é sempre preferível importunar, até porque a nossa economia não permite conseguirmos estar em patamares de igualdade de negociação com marcas como noutros países. E aqui chega-se ao 2º ponto de análise, a presença efetiva das marcas nos festivais portugueses na atualidade [26 festivais com naming sponsor em Portugal no ano de 2014, segundo o “Perfil do festivaleiro”].
É sabido que as marcas permitem que consigamos ver os artistas mais desejados, nos festivais, por um preço mais baixo. E que custo isso terá para o público? Hoje os brindes são dados com precisão, com utilidade e…quando existem. Acabaram, por isso, as guerras por uma t-shirt ou as simples fotografias com publicidade obrigatória incluída.
Hoje uma ativação, feita neste contexto, é idealizada em conjunto com o promotor, a marca manda mas acede a regras e percebe a forma de chegar ao seu público e conseguir assim potenciar neste contexto o seu índice de notoriedade. Cada contexto exige uma análise (e.g. tipologia de público; caracterização do festival; localização; acessibilidade) que origina uma ação específica e não estandardizada.
Para análise deixo a questão se os festivais promovidos por municípios, um fenómeno em potência nos últimos dois/três anos, que viram também neste formato a melhor forma de gerar agradabilidade com os seus cidadãos e conseguir maiores fluxos turísticos, funcionam como festivais sponsorizados onde a ativação da sua “marca” é estudada ao pormenor?