O que atraiu foi sobretudo a dimensão dos mercados maiores que Portugal: “Queria trabalhar para clientes maiores, queria experienciar a vivência de trabalhar um cliente grande no dia a dia num mercado ‘criador’ de publicidade em vez de um mercado ‘adaptador’ como Portugal muitas vezes é”. Foi quando ainda estava na DraftFCB que começou a equacionar mais seriamente a aventura internacional: em 2010, João e um copy da agência venceram o concurso de Jovens Criativos do Eurobest, com direito a representar Portugal no festival, em Hamburgo. “Esse curto contacto no estrangeiro também foi algo que me fez pensar nesta aventura mais a sério”.
Não tardou a que trocasse Lisboa por Barcelona. Tinha a ideia de tentar noutras cidades da Europa, mas o mercado espanhol também lhe agradava. Foi contratado pela Ogilvy & Mather, mas no final desse ano voltaria a fazer as malas, desta vez para a Alemanha. Aceitou uma das propostas que tinha e é nessa agência que está atualmente: a Dieckertschmidt, em Berlim, de que é diretor de Arte.
João Peixoto diz que não é um emigrante por necessidade, mas sim por vontade. E o seu olhar para a palavra emigrante é tudo menos negativo: acredita que, tal como ele, muitos criativos que saíram de Portugal têm em comum a vontade de fazer mais e melhor, onde quer que estejam.
Mas não se sente apenas emigrante, sente-se também um cidadão do mundo, na medida em que ser criativo implica também tentar saber o mais possível sobre várias áreas e assuntos. Mas sem perder a identidade: “Isso é algo de que me apercebi ao trabalhar fora de Portugal. Como o mercado é mais internacional, cada pessoa traz a sua própria visão de acordo com a sua identidade pessoal. O modo como isso potencia a criatividade é fantástico”.
Mas o que muda quando se cria noutros mercados maiores do que o nacional? “A mudança de dimensão é inegável. Mas penso que o mindset também muda um pouco”, sintetiza João. No seu caso específico acredita que há mais objetividade na Alemanha, mas “com vontade de fazer sempre melhor”. Até porque o mercado se mexe “bastante rápido”. Diz mesmo que o mercado português podia beneficiar de algumas ideias do mercado alemão, em termos do seu funcionamento. Mas ressalva que o mercado alemão também beneficia muito das ideias e métodos trazidos pelos criativos de todos os cantos do mundo: “Nessa parte também temos uma palavra a dizer, sem dúvida”.
João está na Dieckertschmidt desde o primeiro dia da agência. E está feliz com o caminho que tem percorrido: “Com bastante esforço e exigência fomos fazendo sempre melhor a cada dia, aumentando a equipa e ganhando clientes. Hoje a agência é bastante maior que no início e é bom sentir que fiz parte do crescimento de algo importante. Este esforço e vontade de fazer sempre melhor deram-me a oportunidade de assumir o cargo de Head of Art, o que me deixou bastante feliz”.
Os prémios têm confirmado a escolha: no final do ano passado, a Dieckertschmidt foi eleita a Melhor Nova Agência Alemã do ano. “Posso dizer que esse reconhecimento me deu bastante gozo”. Já no início deste ano, a dupla integrada por João foi nomeada para o Top 5 de jovens duplas criativas pelo Art Directors Club Germany, o que lhes abriu as portas da final do Cannes Young Lions Germany.
João Peixoto é, pois, um criativo satisfeito: “O simples facto de ter saído de Portugal e ter conseguido atingir muitos objetivos é muito recompensador. Também me dá gozo ver o sucesso dos criativos portugueses no mundo, a cada ano, em cada festival”. Mas não é um criativo acomodado: “Falta-me sempre muito. Não acredito em ser criativo sem ambição. Sinto todos os dias que me falta fazer melhor trabalho e acho que é uma boa maneira de levar a vida nesta profissão”.
A culpa é do Edson
O “bichinho” começou a despertar ao ver o programa de Edson Athaíde na RTP. Com o passar dos anos foi gostando cada vez mais da capacidade que a publicidade tem de despertar reações nas pessoas. Não obstante, a entrada de João Peixoto no mundo da publicidade surgiu inesperadamente: “Durante os meus estudos queria ser designer de produto. Fascinava-me a ideia de poder criar algo que fizesse parte da vida das pessoas. Acabei por começar a minha carreira como designer gráfico. A um certo ponto senti que não estava preenchido profissionalmente e saí. A publicidade surgiu quase por acaso, com um contacto da DraftFCB, curiosamente. Fui ver o que tinham para me dizer e confesso que nem esperei gostar. Ao fim de duas semanas já sentia que era Direção de Arte o que queria mesmo fazer. A equipa era ótima e isso ajudou bastante no início. Percebi que as marcas fazem realmente parte da vida das pessoas e que é um grande desafio trabalhar essa relação”.
É precisamente isto que o atrai: “O facto de ajudarmos as marcas a desenvolver a sua relação com o público é fascinante. Ajudar as marcas a contar a sua história, nos dias de hoje, com todos os meios que temos à disposição é um grande desafio e é isso que me atrai. Perceber realmente a história que cada marca que trabalho quer contar e aplicá-la a cada meio, a cada mensagem. É motivante por si só”.
E, apesar da entrada inesperada, hoje reconhece que a publicidade é um fato que lhe cai “bastante bem”: “Poderia ter sido profissional noutra área mas hoje não me consigo ver numa profissão em que não tenha que impor a mim mesmo a obrigação de ser criativo todos os dias. Gosto da ‘batalha’ dos pitches, da necessidade de criar uma boa ideia, da conceção, da execução, de ter a possibilidade de ser a ‘voz’ de uma marca. Às vezes até acho que gosto dos ‘nãos’, tão comuns na nossa profissão”.