Liderar e comunicar no pós-Covid

O isolamento imposto pela situação de pandemia global trouxe à evidência a necessidade de melhorar um aspeto fundamental da comunicação, particularmente entre quem tem a responsabilidade de liderar e gerir equipas. É consensual que alguma falta de objetividade é um traço das culturas latinas de uma forma geral. Nem sempre se gere muito bem o apuramento de responsabilidades, o cumprimento de normas e ainda o saber parar, dizer não, quando é efetivamente necessário fazê-lo.

 

Normalmente, a apetência para cultivar a interação e as relações pessoais facilitam-nos esta tarefa, mas facilitam também a convivência, por vezes, com alguma de objetividade, de compromisso e de eficiência de uma forma geral.

Esta nova situação pandémica veio alterar um pouco a equação… Deixámos de poder interagir e conviver como gostamos, cara a cara, e passámos a comunicar de forma mais sintética, enquadrados por sistemas de teleconferência concebidos para gerir bem o tempo, falar na nossa própria vez, de forma objetiva, sob o escrutínio geral. Ou seja, passámos a ter de comunicar de forma muito mais objetiva e orientada para a execução de tarefas concretas.

O teletrabalho obriga-nos a maior planificação, mais foco na objetividade e na gestão do tempo e da própria comunicação. Temos assim menos fatores psicológicos e menos comunicação não verbal. (Embora com custos/consequências do ponto de vista sociológico que ainda estão por aferir).

A imagem, os gestos, a postura e a empatia de uma forma geral perderam dimensão nesta nova forma de trabalhar. Isto tem sido válido também para a comunicação social, com muito menos utilização de estúdio, de imagem e de personalização da comunicação, em favor do conteúdo propriamente dito. A técnica está, portanto, a delegar os aspetos mais formais da comunicação para um plano secundário.

Quer queiramos quer não, os sistemas tecnológicos de comunicação são idealizados por engenheiros para cumprir determinadas funções e, só posteriormente, a utilização dos próprios sistemas vai forçando a introdução de funcionalidades mais humanizadas e menos técnicas, tal como acontece com a própria utilização dos códigos linguísticos.

Resta agora saber se, passada a pandemia, e regressados a uma situação de uma nova normalidade, rapidamente vamos esquecer que afinal, ainda que mais isolados, comunicámos e interagimos de forma mais rápida e objetiva. Se vamos continuar a planificar e a gerir o tempo das nossas intervenções, tal como temos vindo a fazer em teleconferência, ou se vamos voltar à subjetividade que carateriza o nosso modelo de gestão, de liderança e de comunicação.

Penso que o segredo estará em saber fazer o equilíbrio entre a objetividade e a personalização, ou seja, rever os métodos e saber ser flexíveis. Ou seja, adaptabilidade. Vivemos tempos novos e todos estamos a reaprender, todos os dias. (E vamos continuar) Mas, em última análise, somos pessoas e a autenticidade e as emoções são soft skills que nenhuma tecnologia consegue acrescentar (ainda).

Foco, estratégia e inteligência emocional nunca foram tão importantes com agora!

 

Carla Guedes, especialista em Comunicação Corporativa

briefing@briefing.pt

 

Segunda-feira, 04 Maio 2020 08:35


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