Notícias?.. Haver, havia.

 Notícias?.. Haver, havia.Não faltam ganchos por onde começar. Gancho, esse termo tão pouco jornalístico mas que tanto sentido faz num sector que depende exactamente disso – de ganchos – para sobreviver.

A palavra gancho, para além de se referir a objecto que serve para prender o cabelo, tem outros significados consoante o contexto. No caso, é tanto o biscate, pequeno serviço ou serviço extraordinário, como o elemento da estória que vai prender a atenção do público.

A pizza. Os seus ingredientes. O cartão do cidadão do rapaz das pizzas. As visitas e os bolos. As luzes e os carros que passam.

Não vi nada disto – ainda bem – mas li comentários, descrições – e outras coisas menos próprias que não interessa referir – sobre uma notícia que se resume ao essencial: José Sócrates está em prisão domiciliária. A que horas chegou, se comeu ou não, o que levava vestido… Não são temas. E, a serem ganchos do tema, prevejo o pior. Que ainda estará para acontecer.

Ao contrário do que parece, a comunicação social em Portugal está em verdadeira ebulição. Disso, não há notícias. Os órgãos não falam de si próprios, como as pessoas reservadas que não anunciam uma mudança na sua vida, quando está na eminência de acontecer. Se olharmos de longe, percebemos que as agendas estão recheadas de detalhe. O tipo de detalhe que escapa ao olho nu e que depende de informação para ser compreendido. Para quem não sabe, os cães ladram e a caravana passa. Mas esta passagem vai mudar, de forma profunda, o cenário da comunicação social. Não sei se para melhor, porque me parece pouco provável que possamos ficar pior. Em 2001, pensei que não desceríamos mais baixo, quando vi alguns dos directos de Entre-os-Rios. Não descemos. Afundámos.

Notícias sem conteúdo. Catálogos de produtos e serviços disfarçados de revistas mensais. Profissionais mal pagos e outros que trabalham sem receber. Favores aqui. E ali. Poucos aos senhores Ministros e tantos aos outros senhores. Quando comecei a ensinar, falávamos muito no 4.º poder e na sua importância. Os poderes continuam a ser quatro, mas a lógica da sua importância mudou.

A comunicação social já não é o 4.º poder. Ainda tem poder, mas foi subvertido ao poder económico que domina, também e com alguma mestria, o poder político. Ou talvez não seja nada disto e tudo se tenha tornado mais visível. Estaremos na era da transparência?

Um pouco como os comentários que, por vezes, oiço, relativos às notícias do marido que matou a mulher e está a monte… “Antigamente não havia nada disto”, dizem. Haver havia, tínhamos era menos notícias na comunicação social. “Pois… Se calhar é isso…”

Corrupção e conteúdos desinteressantes? Haver havia, não se notava era tanto….

Terça-feira, 08 Setembro 2015 11:24


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