O espaço é pequeno: afinal, no 32 da Rua de São Cristóvão existira antes uma tasca típica. Mas o bar em nada destoa do bairro histórico: o que domina é o balcão, onde se pode ver o casal de proprietários – o basco Alf del Portillo e a italiana Marta Premoli – a fazer das suas, no melhor dos sentidos: a inventar e reinventar cocktails com a paixão própria de quem sempre quis fazer isto na vida.
“Isto” são os cocktails, em que são ambos experientes. Porque o bar, esse, é um sonho mais recente. Conheceram-se em Londres, onde Alfi esteve cinco anos. Mudaram-se depois para Amesterdão e por aí ficaram mais três anos. Mas o frio nórdico não era para eles e a ideia de mudança para outras temperaturas começou a germinar. Com ela, a de um bar: “Era agora ou nunca”, diz Alf, acrescentando: “Se íamos para um país novo tínhamos de ter algo familiar.”
E algo que representasse a cultura dos dois. O nome que deram é a prova disso mesmo: tem leitura em basco e em italiano. “Quatro Teste” resulta da tradução de “Lauburu”, símbolo do povo basco (“Lau” significa quatro e “buro” cabeças). E, em italiano, vale o mesmo: quatro cabeças”. E a mesma comunhão está presente no símbolo: como que uma cruz que representa a união entre as várias regiões bascas, muito semelhante à que está gravada na bandeira da província italiana da Lombardia. No fundo, propõe-se traduzir a mescla de locais e culturas que dá vida a este bar.
Aqui a prioridade é servir bons cocktails, garante Alf. E se os há. O desfile começou com um Kalimotxo – Rioja tinto, Coca-Cola e framboesa; prosseguiu com um Negroni Strawberries & Cream – gin Astobiza, Belsazar Rosé, Aerol infusionado com morangos e misturado com arroz para risotto; e culminou com um Angelo Azzurro – gin Astobiza, Nardini Acqua di Cedro e Blue Curaçao. Este último é, só por si, um espetáculo, a merecer, pelo menos, um story no Instagram.
Há opções sem álcool, igualmente atrativas, cerveja artesanal e duas cidras bascas, uma delas servida diretamente da pipa, com o ritual que é bem conhecido por quem já visitou a região.
O que a carta de bebidas evidencia é a tradição do aperitivo comum aos dois países de origem dos proprietários. O que é extensivo à cozinha, a cargo da brasileira Clara Uchôa. O destaque vai para a variedade de pintxos, os pequenos apontamentos gastronómicos típicos do País Basco, mas aqui com influências italianas.
Voltamos ao desfile: queijo caciocavallo com dose de frutos vermelhos e creme de vinagre balsâmico; mil-folhas de batata, picles de courgette e pasta de azeitona preta; croquete de presunto ibérico, grana padano, ovo de codorniz e vinagrete de pistache.
Mas a escolha pode recair igualmente sobre tábuas de charcutaria e queijos, beringela à Parmigiana, lasanha ou tortilha de batata. Haja apetite!
Tudo neste bar da Mouraria remete para interculturalidade. Da união entre Alf e Marta, nasceu um outro casamento feliz entre cocktails e gastronomia.