Os resultados das últimas eleições europeias são um reflexo das alterações significativas nas dinâmicas políticas no panorama nacional e no contexto europeu, que, tal como acontece em todos os momentos de sufrágio, revela vencedores e vencidos.
A introdução do voto em mobilidade foi uma tentativa notável de combater a abstenção, contudo uma solução bastante penalizadora para a realização de sondagens à boca da urna. O voto antecipado também registou números superiores aos das últimas legislativas, com cerca de 252 mil eleitores inscritos. Ainda assim, e apesar de todos estes esforços, a abstenção em Portugal manteve-se bastante acima da média europeia (51%), situando-se nos 63,6%.
Nesta ronda de eleições para o Parlamento Europeu, Portugal elegeu um total de 21 eurodeputados de uma lista eleitoral composta por 17 partidos e coligações, tal como aconteceu nas últimas eleições, em 2019.
O grande vencedor destas eleições pode dizer-se que foi a Iniciativa Liberal (IL) que conseguiu eleger 2 eurodeputados, algo que não se concretizou nas eleições anteriores, e afirmar-se como a 4.ª força política. Este crescimento significativo sublinha a mudança no panorama político português.
Por outro lado, o Pessoas-Animais-Natureza (PAN) não conseguiu manter o único eurodeputado que tinha conseguido anteriormente e o Bloco de Esquerda (BE) perdeu um dos mandatos, acabando por descer para a 5.ª posição. A Coligação Democrática Unitária (CDU) registou, com apenas 4,1% dos votos, a percentagem mais baixa desde as primeiras eleições europeias em 1987, perdendo um dos seus dois mandatos. Estes resultados indicam uma nova tendência nas preferências eleitorais, com uma maior fragmentação do voto à esquerda.
Já os grupos políticos de direita sentiram “Copo meio cheio; Copo meio vazio”. O Livre conseguiu 3,8% dos votos, um desempenho superior ao de há cinco anos e das últimas legislativas, mas insuficiente para eleger um eurodeputado. O Chega, que em 2019 nem entrou no Boletim de voto, teve um desempenho bastante abaixo das expectativas, não sendo capaz de manter um 5.º mandato. O Partido Socialista (PS) venceu as eleições, mas perdeu a presença de um eurodeputado, enquanto a Aliança Democrática (AD), que perdeu a liderança das eleições, manteve os seus sete eurodeputados e um registo superior à soma do PSD e CDS em 2019.
Em suma, os grupos políticos de direita elegeram 11 eurodeputados contra os 10 de esquerda, uma alteração significativa em relação aos cinco anos anteriores, quando a esquerda tinha 13 eurodeputados, a direita tinha 7 e o PAN apenas 1. Estas alterações podem refletir uma maior estabilidade política e reforçar as dúvidas do Chega e do PS em promover a dissolução da Assembleia.
Alargando a análise à perspetiva europeia, a média de participação eleitoral foi de 51%, com países como a Bélgica e o Luxemburgo a registarem as taxas mais elevadas, de 89,8% e 82,3%, respetivamente. A extrema-direita obteve resultados divididos, com vitórias significativas na Áustria, Alemanha, França e Itália, mas com a perda da ascensão esperada nos Países Baixos.
Os Irmãos de Itália-Aliança Nacional, liderados por Giorgia Meloni, foram um dos grandes vencedores, obtendo 29% dos votos e aumentando a sua representação para 24 eurodeputados. O Rassemblement National, sob a liderança de Jordan Bardella, também duplicou a sua votação em comparação a 2019. Em contrapartida, figuras como Emmanuel Macron e Olaf Scholz enfrentaram um cenário político interno cada vez mais polarizado com desafios consideráveis face aos resultados desfavoráveis nos seus países.
A redução da idade mínima para votar aos 16 anos permitiu que mais de cinco milhões de jovens participassem nas eleições pela primeira vez, beneficiando principalmente a extrema-direita. No entanto, os partidos pró-europeus mantiveram a sua maioria no Parlamento Europeu, com o Partido Popular Europeu (PPE), os Socialistas e Democratas (S&D) e os Renovadores e Liberais a garantir uma sólida maioria.
Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia, comemorou a vitória do seu partido CDU na Alemanha, fortalecendo a sua posição para uma possível reeleição. Em Portugal, António Costa surge como um forte candidato para substituir Charles Michel na presidência do Conselho Europeu, um cenário que poderá refletir-se numa influência significativa para o país na tomada de decisões estratégicas da União Europeia.
António Salvador, presidente do Conselho de Administração do Grupo GfK Portugal