As relações de trabalho também se alteraram profundamente: já não se exige lealdade aos colaboradores, mas sim capacidade de adaptação à mudança. A disponibilidade de aceitar novas tarefas e missões e a capacidade de desenvolver novas competências para as levar a cabo passam a ser a grande “moeda de troca” dos colaboradores.
Podemos destacar três megatrends que impactam hoje em dia na natureza do trabalho e das organizações:
- Globalização – A crescente mobilidade dos recursos humanos e a circulação de conhecimento e das aprendizagens levam a que, hoje, o mercado de trabalho tenha de ser equacionado à escala global na busca de talento e na proposta de valor dos empregadores;
- Demografia – O aumento da esperança média de vida e o consequente envelhecimento da população nos países desenvolvidos leva a uma “revolução grisalha” nas organizações, fazendo com que os trabalhadores saiam cada vez mais tarde da vida ativa, e, consequentemente, que várias gerações convivam no mesmo perímetro organizacional;
- Tecnologia – A evolução exponencial da tecnologia reflete-se aos mais diversos níveis da sociedade, desde a mobilidade geográfica, à redução das distâncias físicas (através da colaboração remota), à descontinuação dos horários de trabalho (por via da permanente conectividade), ao aumento da capacidade de processamento de trabalho (por via da automatização, robotização e do machine learning), à pressão para uma maior eficiência energética (e gestão inteligente dos consumos, dos transportes, entre outros), aos avanços na genética e nanotecnologia (que permitirão cada vez mais ter humanos mais eficientes por design);
A combinação destas três megatrends leva a três grandes mudanças de paradigma no mundo do trabalho e das organizações:
- Novas formas de organização: novos modelos corporativos, onde o trabalho é gerido de forma fragmentada, por projetos, por objetos de cocriação, desenvolvidos por equipas mais pequenas e de configuração temporária (à semelhança das conhecidas “brigadas” do Spotify), recentrando a produção humana nos aspetos transacionais e de criação com forte valor acrescentado, suportados por inteligência artificial para os grandes processamentos mais indiferenciados. Uma economia do conhecimento potenciada pela capacidade de colaboração em tempo real de forma desmaterializada veio permitir novas combinações de valências, antes impossibilitadas pela dispersão geográfica do talento;
- Novo significado social do trabalho: a criação de cada vez maiores assimetrias no rendimento e no emprego, gerando desigualdades cada vez mais acentuadas vai levar a que os modelos meritocráticos de gestão tenham de conviver com modelos alternativos de trabalho social, sob risco de convulsões sociais que podem levar ao implodir do modelo de economia de mercado como hoje o conhecemos;
- Uma revolução nos valores: a mudança exponencial que a tecnologia veio potenciar em termos socioeconómicos refletiu-se igualmente numa revolução de valores, que se traduz na forma como diferentes gerações olham para o trabalho, na forma como aprendem e colaboram, na forma como lidam com a autoridade e mesmo na forma como encaram a sua equação de felicidade. A convivência da quatro a cinco gerações diferentes no mesmo perímetro organizacional traz enormes desafios, que resultam precisamente do nível de estimulação cognitiva que a tecnologia lhes proporcionou e do tipo de experiências a que foram expostos ao longo do seu crescimento enquanto indivíduos e enquanto profissionais;
Considerando o panorama global, espera-nos, provavelmente, um futuro emocionante no mundo do trabalho e das organizações, fruto da quarta revolução digital que estamos a viver.
Paula Oliveira, senior partner da SDO Consulting