Mas porque é que a felicidade é importante para as organizações?
Comecemos por falar da conta bancária. Essa mesma, leitor, aquela que todos temos depositada nos bancos e que para uns é mais “choruda” e para outros mais… “para chorar”.
As nossas contas bancárias constituem as reservas que sustentam e determinam a nossa capacidade para desenhar projetos e investir no futuro. Claro que há outros recursos a que recorremos; mas a existência de uma relativamente sólida conta bancária é essencial para termos confiança e suportar mesmo um certo sentido de risco. Na sua insuficiência (da conta bancária, entenda-se), cada um fica de tal modo absorvido com os problemas da subsistência, que a sua inteligência, a sua criatividade e a sua capacidade de idealizar cenários futuros podem ficar seriamente limitadas às escolhas e alternativas para fazer face aos problemas imperativos do quotidiano.
Imaginemos agora uma conta bancária diferente: a “conta bancária emocional”, ideia introduzida na gestão por Stephen R. Covey. Tal como a anterior é movimentada através de créditos e débitos, a nossa “conta cancária emocional” é movimentada do mesmo modo, sendo que o saldo corresponde ao nosso “capital psicológico”, definido como a energia psicológica e emocional que cada pessoa tem e que é sobretudo gerado e alimentado pela qualidade e quantidade das relações, pessoais e profissionais que vai tendo ao longo da vida.
Se considerarmos que a felicidade organizacional é, sobretudo, a vivência de “estados subjetivos positivos” de uma pessoa, no contexto da “sua” organização, podemos facilmente compreender que a experiência da felicidade constitui a principal fonte energética para alimentar o capital psicológico. E ainda, quando as pessoas experimentam, de modo consolidado, a sensação de que a sua organização é uma fonte essencial para o seu “enriquecimento” pessoal, estabelecem (mais) facilmente um contrato psicológico e emocional duradouro, mas também produtivo, sustentado na profunda crença de que o desenvolvimento e o progresso da sua organização são uma parte fundamental do seu desenvolvimento como pessoa.
Neste contexto, a fruição do sentimento de felicidade constitui uma “ferramenta de gestão” que potencia uma maior motivação das pessoas, maior “engagement” e, consequentemente, maior “commitment”, facilitando assim a criação de uma cultura de propósito partilhado. Por outro lado, a existência de uma maior “conta bancária emocional” com a sua empresa, torna a pessoa um verdadeiro “ativo” organizacional, dando-lhe igualmente uma maior capacidade de confiança e de esperança para enfrentar desafios em momentos mais difíceis. E isto é uma condição essencial para que cada colaborador se possa tornar efetivamente um “stakeholder”.
Por último, a vivência da felicidade organizacional gera um ambiente estimulante e fortemente impulsionador de emoções positivas, que contrasta com as organizações onde as pessoas se arrastam penosamente numa “via sacra” de frustrações, porque o seu mundo interior se converteu num “grande e infindável miasma cinzento”.
Mário Ceitil, presidente da APG – Associação Portuguesa de Gestão das Pessoas