Ontem, dia 13, comemorou-se o primeiro Dia Mundial da Rádio. Mas ontem é passado e interessa saber para onde caminha o meio rádio. Nas comemorações deste dia, o ISCSP juntou, em Lisboa, profissionais e académicos num conjunto de tertúlias para debater o meio, suas especificidades e o futuro.
A propósito do tema, Paula Cordeiro, investigadora no campo da rádio e organizadora do evento, refere ao Briefing que os paradigmas que a rádio enfrenta do ponto de vista académico são exatamente os mesmos que do ponto de vista profissional. “Do ponto de vista académico há um paradigma que não é muito tratado, que é a questão do modelo de negócio. Porque a questão dos modelos de negócio e a gestão dos meios de comunicação social está muito mais vocacionada para investigadores da área da Economia e da própria Gestão do que propriamente das Ciências da Comunicação”, começa por referir a investigadora.
“Há também algum menosprezo pela questão de negócio e de encarar os meios de comunicação como negócios que têm de ser rentáveis. Portanto há uma grande centralização e uma grande preocupação no que diz respeito aos conteúdos, às audiências, às representações mediáticas, mas depois tudo aquilo cai em saco roto porque não se pensa na componente de negócio”, sublinha Paula Cordeiro referindo que a questão do modelo de negócio, da rentabilidade e da gestão da rádio enquanto marca está sempre presente nos estudos que tenta conduzir.
Sobre a rádio portuguesa e a sua qualidade, a docente do ISCSP diz que não é necessariamente melhor nem pior do que aquela que se faz lá fora. Em primeiro lugar, Paula Cordeiro realça que não faz sentido pensar “na rádio europeia”, no sentido em que há uma diversidade linguística muito grande na Europa onde não é possível definir um padrão: “Um país como a Suíça tem três línguas e três contextos culturais…”, exemplifica.
Ainda assim, “Portugal, podemos pensá-lo comparativamente à Inglaterra, em termos de formatos, não em termos de comportamento de audiência ou em termos de consumo de plataformas. Podemos compará-la em relação à Holanda, Dinamarca, onde poderá ter algumas semelhanças, mas depois, por outro lado não podemos porque os países do norte da Europa têm um serviço público muitíssimo forte que nós não temos no sul. E o problema não é [apenas] português: é português e dos restantes países do sul”, comenta.
Indagada sobre o contributo do ISCSP neste âmbito, a investigadora refere que o maior “é juntar a academia e os profissionais para debater o meio rádio e, de certa forma, servir para reposicionar a rádio como o meio de comunicação extremamente importante”. “Não é que ele não o seja, simplesmente as pessoas não têm essa noção e esquecem-se muito da rádio… A rádio é como a eletricidade, está lá. Nós chegamos a casa, ligamos o interruptor e está lá… Entramos no carro e aquilo começa a tocar e não lhe damos pela falta, até ao dia em que ela desapareça…”, conclui realçando ainda que não acredita no fim do meio rádio.
Luís Montez, admininistrador da LusoCanal, Pedro Ribeiro, diretor da Rádio Comercial, Paulo Baldaia, diretor da TSF, e José Luís Ramos Pinheiro, administrador do grupo R/com, foram alguns dos profissionais que marcaram presença na iniciativa.
Filipe Santa-Bárbara
Fonte: Briefing