Vivemos num mundo em que a velocidade de transformação das marcas, a adaptação dos concorrentes, da tecnologia ou das preferências dos consumidores é avassaladora. Agora, juntando à equação a total incerteza trazida pelo Coronavírus, ninguém imagina o dia de amanhã. Muitas marcas não estão preparadas para lidar com esta catadupa desafios.
É consensual, entre diversas consultoras internacionais especializadas, que a vendas de produtos de luxo caiu, no primeiro trimestre, entre 20% e 35%, ainda que haja sinais modestos de retoma no mercado chinês, o mais importante a nível global.
Mesmo considerando que as estatísticas sejam generalistas, o mercado de luxo não foi afetado todo por igual. No topo estão a moda, o automóvel e, sobretudo, o turismo (hotelaria, restauração e viagens).
A pandemia causada pela Covid-19 teve, tem e continuará a ter um impacto massivo também nos mercados financeiros e na economia global, muito próximos do imobiliário. Investidores e famílias, proprietários de imóveis e potenciais compradores, por todo o mundo, perguntaram-se legitimamente: será que a pandemia vai afetar o mercado imobiliário? E de que forma?
Na verdade, diz-nos a experiência, no que concerne ao segmento de luxo em Portugal e até mesmo fora, que apenas se alterou o tipo de propriedades procuradas. Agora o interesse recai em zonas periféricas, como a linha de Cascais, Sintra, Herdade da Aroeira e Alentejo. Nos imóveis localizados no perímetro urbano também houve um ajuste. A procura centra-se em penthouses e apartamentos com terraço e varandas generosas.
Todavia, acredito que estas serão apenas as primeiras ondas de choque – no caso, positivas – da pandemia no imobiliário de luxo. Haverá um vasto conjunto de tendências, que já eram previsíveis, e que a Covid veio acelerar neste segmento. Change or die. É nesta encruzilhada que estarão muitas empresas neste momento. É fundamental agilidade para criar relevância. Repensar, reinventar e ser disruptivo, mesmo num mercado (até agora!) conservador.
Esta é a definitiva porta de entrada da digitalização no imobiliário premium. O direct-to-consumer e-commerce, através de suportes como hologramas ou realidade aumentada e virtual, será uma realidade corrente nos próximos anos.
Uma perspetiva apontada por diversas consultoras de gestão e tendências internacionais, apoiadas no facto de o crescimento no mercado de luxo centrar-se, agora, nas gerações millennial e Z, que têm um conjunto de valores e drives de compra muito distintos das anteriores, assim como uma predisposição natural para o digital.
Ainda assim, estes novos clientes trazem um conjunto de exigências consigo, às quais o mercado imobiliário vai ter de dar resposta de forma mais cabal do que o faz neste momento.
São gerações de consumidores que exigem produtos ambientalmente e socialmente responsáveis, pertencem a uma geração pós-aspiracional, em que os bens éticos e a estética são prioridades e determinam a compra de um imóvel em detrimento de outro.
Finalmente, e ao contrário do período inicial de globalização, valorizam o produto local e não massificado.
Estou certo de que as marcas independentes de luxo serão a next hot thing no pós-Covid, que veio proporcionar um novo ponto de partida equilibrado com as grandes corporações internacionais.
No fundo, e como sabemos, nada será como dantes!
Filipe Lourenço, CEO da Private Luxury Real Estate