Uma espécie de bruxa má

Paula Cordeiro, Investigadora Não gosto da Violetta. Porque na maior parte das vezes duvido de importações de formatos, nunca gostei de dobragens e, menos ainda, de séries, filmes ou novelas em que um diálogo é interrompido por uma canção.

Mesmo a Fame, que na altura me fazia sonhar, tinha cenas chatas: no meio de um discurso, alguém desatava aos saltos e outro se agarrava a um piano.

Cantavam. Começava a música, para terminar tal como se havia iniciado: do nada.

Do que vi na Violetta, ninguém fala a cantar. Mas cantam, em momentos específicos. E dançam. Como antes, na Floricienta – a nossa Floribella -, há tragédia (mãe ou pais que morrem antes do tempo), o bem e o mal – embora o bem demore mais do que uma temporada a vencer o mal -, música e paixões.

As falas são dobradas. Como habitualmente (ainda que um pouco melhor do que as primeira novelas mexicanas nas quais as bocas mexiam e só depois saia o som… Por vezes até se ouvia antes da boca mexer. Ou… não interessa porque, simplesmente, não havia sincronismo), as bocas mexem, mas o som não corresponde. Algumas vozes são agudas. Demasiado. As interpretações são… isso mesmo. Interpretações que acentuam a teatralização.

Há miúdas más demasiado maquilhadas. Muito produzidas para a adolescência que as caracteriza. Os dias serão, portanto, uma festa. Para todos, incluindo as miúdas boas que sofrem a injustiça perpetrada pelas miúdas más.

No entretanto, as miúdas boas da vida real brincam à Violleta. Imitam as roupas, os cabelos, pintam os lábios e falam em português, com os lábios sincronizados, de maldades e canções.

Também por isto, não posso gostar. Tenho em casa uma pequena Violetta que se deslumbra com a verdadeira Violetta, como todas as meninas da sua idade. E, quando pensei que a Violetta teria desaparecido da nossa vida, eis que o fim do Verão anuncia o seu espectáculo em Lisboa e o regresso da série à televisão. Não deveriam estas séries ser mais do que uma imitação da vida real? Ou é o nosso papel ficar ao lado das crianças a dizer-lhes que aquilo, e aquilo, e também aquilo não se faz?

Quarta-feira, 22 Outubro 2014 11:37


PUB