“Enquanto escrevo este artigo, começam a aparecer sinais positivos nas notícias de todo o mundo. Em alguns países, a curva do coronavírus começa a achatar (esperemos que assim continue). Outros países estão já a iniciar os testes da vacina em humanos. E o papel higiénico nunca faltou nas prateleiras dos supermercados.
Na Austrália tivemos sorte. O governo foi relativamente rápido a reagir e a impor medidas de segurança pública. Na Clemenger BBDO onde trabalho, em Melbourne, também fomos rápidos a introduzir o conceito de trabalho à distância.
Como em todas as novas rotinas de trabalho, foi difícil ao início. Os habituais problemas com as tecnologias, não poder beber uma cerveja com os amigos ao final da semana e a falta de sono devido a toda esta situação.
Mas não é produtivo ficarmos presos aos aspetos negativos. A verdade é que tenho mais observações positivas para partilhar sobre o isolamento do que negativas.
A distância tornou-me mais eficiente em algumas coisas. Trabalho mais horas do que antes do isolamento, mas essas horas são gastas de forma mais produtiva. Menos reuniões, menos interrupções, mais espaço para pensar. Conheço várias pessoas que partilham desta opinião. Isto pode ser interessante quando pensarmos na real necessidade de estarmos todos sempre a trabalhar num escritório físico.
Os briefings são mais interessantes agora. A quarentena fez com que as marcas tivessem de reagir à altura. Temos o exemplo do ‘Quarantine Whopper’, da Burger King. Esta marca está a ensinar-nos a cozinhar hambúrgueres clássicos em casa, devido à queda acentuada de clientes nos restaurantes. Há uns tempos, li o livro ‘The Choice Factory’ do Richard Shotton, um cientista comportamental de Londres que conduziu uma experiência que demonstrou que as pessoas têm maior probabilidade de mudar de marca quando passam por acontecimentos importantes na vida, como mudar de emprego ou ter um filho. Julgo que isto também se pode aplicar a pandemias globais. As marcas que criam uma identificação com o público e se mostram disponíveis para ajudar em tempos de mudança como este têm maiores hipóteses de angariar novos clientes. Embora as restrições à produção nos limitem, estes são tempos entusiasmantes para responder a briefs.
Nunca li tanto como agora. Tento fazê-lo antes e depois do trabalho para dar estrutura ao meu dia. Neste momento, o meu livro preferido é ‘Helmut Krone. The book. Graphic Design and Art Direction after advertising’s Creative Revolution.’ Uma leitura obrigatória para qualquer diretor de arte desta área.
Além disso, e porque agora tenho de ficar em casa, dou uma importância tremenda às saídas diárias para correr. Era algo que não conseguia fazer todos os dias, mas agora é um momento salvador. Ajuda-me a focar e a libertar a tensão dos condicionamentos da quarentena.
A minha última observação positiva vai para os serviços online de streaming como a Netflix, que responderam à pandemia com programas que nos dão alguma sanidade mental. Coisas como o Tiger King, que originou tantos memes. Mas o meu preferido durante este isolamento foi A Casa de Papel. Quatro temporadas de intenso storytelling que me manteve preso ao ecrã todas as noites enquanto bebia uma cerveja.
Por isso, em resumo, embora o coronavírus nos tenha posto a vida de pernas para o ar, temos de continuar a procurar o lado positivo. Para podermos andar para a frente, na esperança de regressar em breve a algo que se pareça com a normalidade. Peaceout.”