Num comentário para o Briefing, Luís Paixão Martins deixa a sua leitura:
“A RTP estaria a fazer tudo bem se se tratasse de promover um novo programa: fugas de informação seletivas, divulgação a conta-gotas de um documento sensível, criação de oportunidades mediáticas para o presidente da companhia, agendamento diário de novos episódios e, até, envolvimento de entidades externas (como a ERC) no plano de comunicação. Tudo conforme os manuais, portanto.
O problema é que a RTP não está a promover um novo programa.
O dossiê dos “brutos” é um incidente que afeta gravemente a reputação da empresa. Ora, quando uma instituição vive uma situação deste tipo, que a indústria do conselho em relações públicas apelida de “gestão de crise”, as normas a aplicar são exatamente as opostas.
Nestes casos, em que o trabalho do consultor é circunscrever os danos e combater a propagação mediática, a prática recomenda a divulgação de todos os dados ao mesmo tempo e para todos os media num exercício de disponibilidade e transparência. Recomenda suspender as atividades de comunicação que estejam, porventura, programadas, sobretudo se estas tiverem no palco os principais protagonistas da instituição.
O próprio ministro que tutela a RTP – e que é um especialista em comunicação política – já tinha, a propósito de outro episódio recente, chamado a atenção para a necessidade de o operador público de TV e Rádio reequacionar o seu perfil comunicacional.
De então para cá, a perceção pública é a de que a RTP não tem sabido concentrar-se na sua atividade e não tem sabido usar o seu aparelho de comunicação para promover os seus programas, as suas vedetas e a sua imagem institucional.
Conclui-se, portanto, que a RTP está a executar bem um plano de comunicação errado. A menos que o objetivo seja descredibilizar e retirar valor à empresa”.
Luís Paixão Martins
Consultor de Relações Públicas
Fonte: Briefing