Desde 29 de
novembro que as notícias em todo o mundo são, quase diariamente,
dominadas, por revelações mais ou menos secretas, avaliações mais ou
menos confidenciais, retratos mais ou menos embaraçosos, de governantes,
governos e diplomatas.
As revelações do Wikileaks provocaram
tensão diplomática em todo o planeta, suscitaram amplos debates ainda
sem fim sobre a legalidade ou não das filtrações e levaram muitos,
dentro e fora do jornalismo, a questionar o impacto futuro.
Às
polémicas somaram-se os debates sobre liberdade de expressão, guerras
cibernéticas, a personalidade de Julian Assange – fundador do Wikileaks –
e os ‘copycats’: novos fóruns, online, onde se dá espaço a filtrações
idênticas.
Vai nascer a Openleaks, já existe a Indonleaks e a
Brusselsleaks e fala-se de novos sítios. O próprio Wikileaks promete
para o início de 2011 revelação de dados do setor privado, até agora
poupado a estas “filtrações em massa”.
Depois da experiência do
“eu jornalista”, em que os consumidores passaram a ser também as fontes
de informação – com vídeo, fotos e texto – agora é a era da “filtração”,
em que o setor público e privado se vê mais exposto que nunca.
Para
Javier Bauluz, prémio Pulitzer e responsável do diário digital
Periodismo Humano, as filtrações marcam o novo “ecossistema da
informação” em que o Wikileaks “é a bomba que muda tudo”.
Bauluz
participou num debate recente promovido em Madrid pelo El Pais, um dos
cinco jornais mundiais que o Wikileaks forneceu com os 250 mil
telegramas diplomáticos produzidos pela diplomacia dos Estados Unidos em
todo o mundo.
Javier Moreno, diretor do El Pais, também sublinhou
nesse debate o impacto das filtrações, que considera como
potencialmente a notícia de maior envergadura que o jornal já
acompanhou.
“O Wikileaks não é algo anedótico. Mudou o panorama de
forma radical”, afirmou no mesmo debate.
Gilles Tremlet, do
britânico The Guardian – outros dos jornais que recebeu os documentos -,
recorda que os cinco estão dependentes “de muito pouca gente”, numa
referência à equipa da Wikileaks.
“Eles fornecem os dados e isso
implica que têm algum poder sobre nós”, comentou.
Muitas questões
se levantaram no debate, cujo impacto só progressivamente se irá
sentindo: mudarão este tipo de filtrações, em que não se conhecem as
fontes, a forma como se faz jornalismo? Continuarão os jornais
tradicionais a ter o mesmo relevo na recolha e disseminação de
informação? Quem passarão a ser as fontes, como se contactam e como se
verificam?
Estas e outras perguntas devem continuar a marcar o
debate em 2011, quando ainda falta revelar a maioria dos 250 mil
telegramas da diplomacia norte-americana.
ASP.
*** Este
texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***
Lusa/Fim