2010/2011: Wikileaks, mudanças e jornalismo, no ano das filtrações

Madrid, 27 dez (Lusa) – Se a experiência do último mês é um sinal do
que acontecerá a curto prazo, 2011 pode bem ficar definido como o ano
das “filtrações”, das “leaks” e do seu impacto na forma como se faz
jornalismo e como se distribui e gera informação.


Desde 29 de
novembro que as notícias em todo o mundo são, quase diariamente,
dominadas, por revelações mais ou menos secretas, avaliações mais ou
menos confidenciais, retratos mais ou menos embaraçosos, de governantes,
governos e diplomatas.

As revelações do Wikileaks provocaram
tensão diplomática em todo o planeta, suscitaram amplos debates ainda
sem fim sobre a legalidade ou não das filtrações e levaram muitos,
dentro e fora do jornalismo, a questionar o impacto futuro.

Às
polémicas somaram-se os debates sobre liberdade de expressão, guerras
cibernéticas, a personalidade de Julian Assange – fundador do Wikileaks –
e os ‘copycats’: novos fóruns, online, onde se dá espaço a filtrações
idênticas.

Vai nascer a Openleaks, já existe a Indonleaks e a
Brusselsleaks e fala-se de novos sítios. O próprio Wikileaks promete
para o início de 2011 revelação de dados do setor privado, até agora
poupado a estas “filtrações em massa”.

Depois da experiência do
“eu jornalista”, em que os consumidores passaram a ser também as fontes
de informação – com vídeo, fotos e texto – agora é a era da “filtração”,
em que o setor público e privado se vê mais exposto que nunca.

Para
Javier Bauluz, prémio Pulitzer e responsável do diário digital
Periodismo Humano, as filtrações marcam o novo “ecossistema da
informação” em que o Wikileaks “é a bomba que muda tudo”.

Bauluz
participou num debate recente promovido em Madrid pelo El Pais, um dos
cinco jornais mundiais que o Wikileaks forneceu com os 250 mil
telegramas diplomáticos produzidos pela diplomacia dos Estados Unidos em
todo o mundo.

Javier Moreno, diretor do El Pais, também sublinhou
nesse debate o impacto das filtrações, que considera como
potencialmente a notícia de maior envergadura que o jornal já
acompanhou.

“O Wikileaks não é algo anedótico. Mudou o panorama de
forma radical”, afirmou no mesmo debate.

Gilles Tremlet, do
britânico The Guardian – outros dos jornais que recebeu os documentos -,
recorda que os cinco estão dependentes “de muito pouca gente”, numa
referência à equipa da Wikileaks.

“Eles fornecem os dados e isso
implica que têm algum poder sobre nós”, comentou.

Muitas questões
se levantaram no debate, cujo impacto só progressivamente se irá
sentindo: mudarão este tipo de filtrações, em que não se conhecem as
fontes, a forma como se faz jornalismo? Continuarão os jornais
tradicionais a ter o mesmo relevo na recolha e disseminação de
informação? Quem passarão a ser as fontes, como se contactam e como se
verificam?

Estas e outras perguntas devem continuar a marcar o
debate em 2011, quando ainda falta revelar a maioria dos 250 mil
telegramas da diplomacia norte-americana.

ASP.

*** Este
texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***

Lusa/Fim

Segunda-feira, 27 Dezembro 2010 16:51


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