Briefing | A Social Data Lab diz medir o impacto social das organizações através de uma técnica pioneira em Portugal. Isso é um risco ou o modelo já foi testado noutro mercado?
Matilde Valente Rosa | Como referiu, esta é uma metodologia pioneira em Portugal e está a ser testada agora, pela primeira vez, pela Social Data Lab. Trata-se de um modelo assente em dois conceitos-chave: impacto social e medição. Em primeiro lugar, o impacto social como uma preocupação emergente de responsabilidade para as organizações, em que estas procuram cada vez mais um desenvolvimento integrado com todos aqueles que são afetados pela sua atividade, criando assim o que veio a designar-se por “valor partilhado”. Em segundo lugar, a medição como peça chave para a quantificação e comparabilidade, requisitos indispensáveis para perceber a realidade que nos rodeia e o papel que temos nela. Assim, a Social Data Lab cria uma união destes dois conceitos pretendendo medir, de forma comparável, o setor social em Portugal.
Briefing | Que entidades colaboram com a Social Data Lab na recolha de informação? Quais as dimensões analisadas?
MVR | O Grupo GfK em Portugal, empresa multinacional de estudos de mercado, colabora com a Social Data Lab na recolha de informação, nomeadamente em inquéritos aos stakeholders envolvidos nas organizações em estudo.
As dimensões analisadas correspondem aos stakeholders de referência: shareholders, colaboradores, clientes, fornecedores, comunidade e ambiente – para o caso das empresas. Para o caso das organizações sem fins lucrativos, os stakeholders de referência analisados são: voluntários, colaboradores, clientes, utilizadores, fornecedores, parceiros, comunidade e ambiente. Em ambos os tipos de organizações – com e sem fins lucrativos – existe ainda uma dimensão suplementar: pequenas comunidades ou grupos-alvo locais objeto de ações específicas de solidariedade ou de responsabilidade social. Esta dimensão só será considerada quando tais ações existirem.
Briefing | Quais as vantagens de uma marca realizar uma análise do impacto social?
MVR | O medidor não se aplica a marcas, mas às organizações que as detêm e as usam. Desta forma, o medidor aplica-se a empresas, entidades públicas, ONG ou organizações similares.
Esta análise do impacto social das organizações apresenta inúmeras vantagens. Em primeiro lugar, de uma forma mais global, permite às organizações medir algo que nunca foi medido de forma sistémica, identificando as vulnerabilidades em concreto e em função da sua importância, ajudando-as a saber como melhorar e onde melhorar. Em segundo lugar, de uma forma mais concreta, permite às empresas avaliar com regularidade o resultado do esforço de responsabilidade social, junto dos stakeholders. Numa perspetiva mais externa, esta análise permite ainda conhecer os pontos fortes e fracos do setor e estar na linha da frente da defesa do setor social em Portugal; e poder comunicá-lo. Numa perspetiva de vantagem económica, há evidência para uma correlação positiva entre a “corporate social responsibility” e a “financial performance”.
Briefing | Mas as marcas procuram este serviço? Que indicadores podem resultar de um estudo?
MVR | As organizações poderão procurar este serviço segundo três perspetivas distintas: 1) análise geral do seu próprio impacto social (junto dos stakeholders de base referidos anteriormente), 2) análise específica do seu próprio impacto social junto dos grupos-alvo (objeto de ações específicas de solidariedade ou de responsabilidade social), ou 3) análise do impacto social das entidades que essas organizações apoiam (permitindo, assim, às organizações terem uma melhor perceção dos seus investimentos sociais realizados).
Do estudo resultará uma análise sobre 60 componentes, 10 componentes para cada stakeholder de base (versão para as empresas, sendo a versão para as organizações sem fins lucrativos similar). Usando uma terminologia científica, podemos dizer que estes componentes são, na realidade, indicadores ou índices resultantes da agregação de diversos indicadores diferentes. As organizações podem escolher uma análise sobre apenas alguns dos seus stakeholders, pelo que o número de componentes analisadas poderá oscilar.
O estudo irá basear-se em duas métricas: uma relativa e uma absoluta. O valor relativo mede a intensidade de impacto e oscila entre 0% e 100%. Alguns componentes das diversas dimensões podem ser positivos ou negativos, consoante o respetivo impacto assim o seja. O valor relativo de cada dimensão transforma-se num valor absoluto quando multiplicado pelo número de destinatários do impacto em cada dimensão.
Briefing |Como estes dados podem ajudar as empresas a atingir os seus objetivos?
MVR | Com certeza. Esta análise ajudará as empresas a atingir os seus objetivos de responsabilidade social assim como a aumentar o retorno dos seus investimentos sociais.
Briefing | Além de medir o impacto social das organizações, a Social Data Lab também aconselha as empresas a melhorar o desempenho? Como?
MVR | O principal objetivo da Social Data Lab é desenvolver o setor social em Portugal, através de análise do desempenho social das organizações e, posteriormente, através de aconselhamento para a melhoria desse desempenho. Desta forma, a medição do impacto aparece como uma métrica em que a Social Data Lab se baseia para esta ajuda, esta consultoria. Assim, não colocaria a medição do impacto e o aconselhamento como duas funções distintas mas sim a primeira como “bengala” da segunda.
Briefing | Qual o modelo de negócio da Social Data Lab?
MVR | A Social Data Lab é um laboratório de investigação e análise social, abarcando diversas áreas: Estatística e estatísticas, Metodologia, Demografia, Responsabilidade e Impacto Social. De uma forma global, a Social Data Lab fornece, nas áreas referidas, serviços de formação estratégica, acompanhamento de projectos, recolha de informação e análise e interpretação.
Neste âmbito, a Social Data Lab procura dar apoio sempre numa perspetiva objetiva, de quantificação, de mensuração.