“Estudei design industrial, mas comecei a trabalhar em agências de publicidade. O poder de convencer através de uma boa ideia sempre me fascinou, daí que a direção de arte tenha sido a minha primeira atividade profissional e só mais tarde veio a realização”, começa por contar Miguel Coimbra, representado em Portugal pela Take It Easy. O trajeto como diretor de arte começou em 1995, na Z. Publicidade, depois na JWT Lisboa, TBWA Lisboa e na BBDO Portugal. Em 2001 aceitou o desafio de ser diretor criativo na MKT/Brandia Central e dois anos depois passou a diretor de publicidade na Ministério dos Filmes. Em 2010, altura em que chegou à Take It Easy, passou também a ser representado no Brasil pela Paraboid BR.
O realizador diz que a sua carreira arrancou “numa ótima produtora”, que lhe deu “hipóteses de estar mais perto de bons scripts” – “Sem boas ideias, não há bons filmes”. Recorda quatro filmes que fez para a Ikea, uma campanha grande para a TMN e alguns Minipreço, trabalhos importantes, que lhe ” deram alguma forma como realizador” e o ajudaram a ganhar espaço na área.
Hoje, além de publicidade, dá também passos nos documentários. Fez, recentemente, um minidocumentário sobre os forcados de Montemor, o “Blood Brothers”, que “teve um destaque muito bom em festivais internacionais, inclusive ganhou o prémio de melhor documentário em dois deles”, e outro sobre o pugilista e atleta paraolímpico Jorge Pina, o “The Good Fight”, que está em fase de candidaturas no circuito dos festivais.
Num outro registo, fez um projeto de ‘branded content’ para a Longbo/Fred Perry, em que teve liberdade total, o que o levou a considerar a marca como aquela com que mais gostou de trabalhar até agora. O realizador explica que já teve “ótimas experiências e bons processos”, mas que “para a Longbo/Fred Perry o cliente disse ‘faz o que quiseres, tu é que sabes’ e isso não tem preço”. E – frisa – é o facto de ter liberdade e poder dar mais de si aos filmes que diferencia a publicidade dos restantes trabalhos: “Na publicidade filma-se para uma marca, um logotipo que tem a palavra final. Nos meus documentários e filmes mais experimentais a marca sou eu. Decido o que filmo, o que mostro e como. Não há opinião exterior nem limitações criativas, é tudo mais puro, mais próximo daquilo que sou e quero ser como realizador. A liberdade é a palavra que mais diferencia os dois tipos de abordagem e, nesse sentido, os filmes extra publicidade dão um gozo especial porque geram peças mais raras”. Mas também nas suas publicidades acaba por haver muito de si. E só assim podia ser.
“A maneira como conto uma ideia é um exclusivo meu e é assim que deve ser (ou estaria a enganar quem me contrata). Tento não ver demasiadas referências e chegar a uma ideia que me pareça relevante para a história. Tenho sempre consciência de que tenho de ser original, preservar a minha visão e resistir à ‘realização-coletiva’, na qual não confio para me guiar. Eu tenho uma forma de ver particular e é isso que gosto que me peçam quando se lembram de mim para um filme”, afirma, reforçando que é a unicidade da forma como se conta uma história que enriquece o projeto. Admite, contudo, que, a par do gosto pessoal, há também espaço para as influências. Diz até que são “os mestres” que o inspiram e destaca Kubrick e Glazer como os realizadores que mais admira.
Quanto aos prémios que já recebeu, Miguel Coimbra nota que foram mais enquanto diretor de arte do que enquanto realizador e tem uma explicação para isso: “Porque é mais fácil ser premiado quando se toma conta da ideia, ela é a alma. Sublinho: é a ideia que deve ser mais valorizada, tudo o resto é secundário”.
E apesar do trajeto feliz no mundo da realização, não deixou de parte o design. Fundou a marca de mobiliário ZERØ2, onde é também diretor criativo. É um projeto para “dar sentido” ao que estudou e que começou por ser um hobby, mas hoje já é um negócio sério, e que, apesar de ter sido montado “para ser fácil de levar”, já tem dado muito que fazer. Miguel Coimbra confessa que “não é fácil conjugar” com a realização, mas diz que o projeto “é como um filho, precisa de nós até ser crescido”. Para já, “está na adolescência”.