Artur Agostinho chega aos 90 anos com otimismo e “pés no chão”

Lisboa, 23 dez (Lusa) – São 72 anos de carreira e 90 de vida a
comemorar já neste dia de Natal. Artur Agostinho, o “comunicador”,
define-se como “otimista com os pés no chão”, mas teme pelo momento
atual de Portugal, “sobretudo” para os jovens.


Jornalista,
radialista, apresentador, publicitário, ator. Artur Agostinho foi um
bocado de tudo, mas na hora de eleger a palavra de uma vida de trabalho a
escolha é simples: “comunicador”. É “comum e transversal” a todas as
áreas onde trabalhou, defende.

Em entrevista a dois dias de
comemorar 90 anos, Artur Agostinho realça que o seu dia a dia é ainda
hoje “ativo”, embora reconheça limitações inerentes às capacidades
físicas.

“Infelizmente não posso fazer tudo aquilo para que me
convidam”, conta à agência Lusa. Atualmente, dedica tempo à escrita –
tem uma crónica semanal no jornal Record -, mas mantém-se atento ao que o
rodeia. É até um utilizador de redes sociais.

“Utilizo a
Internet, faço tudo na Internet”, diz. Visita blogues, tem a sua página
no Facebook – embora limitada apenas aos mais próximos – e até foi ele a
trazer a filha para o mundo das redes sociais.

Menos
entusiasmado mostra-se com o momento social que Portugal atravessa.
Artur Agostinho diz que não é pessimista, antes um “otimista com os pés
assentes no chão”, mas reconhece que vive preocupado “sobretudo em
relação às camadas jovens” e ao seu futuro.

“Preocupa-me o que é
que estes jovens vão fazer daqui a algum tempo, onde vão trabalhar”,
conta o histórico relator desportivo da extinta Emissora Nacional.

Ainda
hoje, diz, “todos os dias” encontra alguém “que se lembra de um relato”
específico de outros tempos. Na maior parte dos casos, as confissões
“mais emocionadas” são de antigos emigrantes que entretanto regressaram
às suas raízes e tinham no “mistério aliciante” das “personagens” por
detrás dos microfones uma companhia que fazia lembrar o Portugal de
origem.

Fazer 90 anos e viver muito tempo é bom porque a memória
está lá, mas há um “problema” recorrente: “Às vezes olho para fotos
antigas, vejo um grupo com 10-12 pessoas e maioria já desapareceu,
nalguns sou eu o único sobrevivente. Isso dá um certo choque, desperta
uma certa saudade”, reconhece, embora procure transformar o duro impacto
numa “recordação saudável”, de “batalhas jornalísticas” travadas em
conjunto com companheiros de outrora, por exemplo.

“Onde estão os
meus amigos?”, questiona-se por vezes. “Perdemos sempre um pouco de nós
próprios e nesta idade é difícil de repor o ‘stock'”, até porque “a vida
é feita de compensações”, afirma.

“Se tinha 20 [amigos] e já
morreram 18 tenho de arranjar alguns, mas não consigo arranjar os 18,
tenho de arranjar dois ou três”. Tudo isto leva a refletir e daí retira a
“importância profunda” das “amizades e companheirismo” ao longo da
vida.

Artur Agostinho nasceu a 25 de dezembro de 1920. Passou
sempre o dia de Natal (e anos) com a família, exceto por duas vezes, uma
porque ficou retido em Inglaterra devido a um nevão e uma que passou no
Brasil no “calor do próprio país e das amizades pessoais”.

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Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***

Lusa/Fim

Quinta-feira, 23 Dezembro 2010 16:29


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