Este é um livro escrito a quatro mãos, mas em tempos separados por dois homens que, aparentemente, pouco têm em comum: um é publicitário, outro é médico, mas ambos contam histórias de doentes da bola, doentes pelo sexo, doentes das compras, doentes pelo trabalho, doentes pelo exercício físico e doentes pelas doenças. Mário Rui Silva e Jaime Branco partilham a mesma tertúlia há 13 anos e agora partilham a escrita, numa obra com edição da bnomics.
Na apresentação, o realizador António Pedro Vasconcelos chamou a atenção para a dualidade simbólica da capa – um publicitário que, de copo e charuto na mão, convida a fazer loucuras e um médico que, de bata branca e estetoscópio ao pescoço, convida a ter juízo.
Assumindo-se doente pelo trabalho, “apesar de gostar muito da preguiça”, o realizador ironizou com Mário Rui Silva devido ao facto de, como publicitário – é ceo da Happy Brands -, não ser isento de “culpas” numa das doenças descritas, a das compras: “O que faz um publicitário? Convida-nos a comprar!”. E recordou a sua passagem pela publicidade, para contar um episódio no mínimo insólito em que recebeu um cliente com um orçamento generoso – “200 contos” – e que lhe fez um pedido mais do que surpreendente: “Faça-me um anúncio que não dê muito nas vistas”.
Igualmente convidado a apresentar a obra, Carlos Liz, partner da IPSOS Apeme, fez incidir o seu olhar sobre o título e a capa, descodificando quer um, quer outra. “O título, ao afirmar que ‘Somos todos doentes’, traduz uma total afinidade com as pessoas, normaliza uma inquietação de todos, que alguns suspeitavam mas que é confirmada, ainda por cima na capa de um livro, que, dizem todos os estudos de mercado, é um objecto muito sério”.
E a fotografia da capa tem o mérito de oferecer “o princípio da solução” do “Somos todos doentes”: ”Lado a lado, em atitudes bem diferenciadas, estão a medicina e a publicidade, a regulação e a desregulação, a possibilidade de cura pelos médicos mas também por outro tipo de criatividade, o da publicidade, que promete o alargamento da vida através dos sonhos”.
“Somos todos doentes” resultou de um desafio lançado por Jaime Branco a Mário Rui Silva para escreverem em conjunto. Faltava-lhes, porém, o tema. E foi uma doente do autor-médico que lhes deu a pista, quando a uma pergunta sobre os antecedentes familiares de doença, respondeu com um “Na minha família, não nos privamos de nada, somos todos doentes”. O tema para o livro estava encontrado, um segundo título – “Não nos privamos de nada” – ficou em carteira, quem sabe se para uma sequela. Afinal, há muito mais do que seis doenças. Só os pecados capitais são sete e os vícios não têm conta…
FS
Fonte: Briefing