Como a Gelpeixe passou de uma loja de rua a exportar para 20 países

“O comércio sempre esteve no nosso ADN”. É desta forma que Lídia Tarré, administradora e responsável pelo Marketing da Gelpeixe, introduz o negócio que começou numa loja de rua, a Casa Fernandes, que pertencia aos avós e vendia de tudo. E que hoje produz 24 toneladas por dia e exporta para 20 países. Vende produto próprio, mas é a produção para as marcas da distribuição que lhe garante escala.

 

Briefing | O que destaca a Gelpeixe no mercado?

Lídia Tarré | Muita coisa. Mas, essencialmente, é a forma como nos reinventamos, a partilha que fazemos e como gerimos a equipa. A nossa forma de ser, de dar e partilhar é transportada para o produto e para as marcas. O meu pai costuma dizer que os valores que mais pesam estão na partilha das nossas vidas com as pessoas com quem trabalhos e é isso que faz com que realmente a empresa tenha sucesso. É o nível de energia positiva que se sente, a proximidade. Tudo se reflete no produto, bem-estar e sustentabilidade.

Sendo uma empresa familiar, 100% portuguesa, como é concorrer com marcas multinacionais?

Concorremos e vendemos, somos parceiros. Vendemos, por exemplo, para a Iglo e para as marcas de retalho (Auchan, Deluxe, Continente, Amanhecer, Pingo Doce). Se me perguntarem o que é que eu gosto mais de vender é claro que gosto mais de vender produto da nossa marca. Mas a verdade é que são estas marcas que nos dão economia de escala e que nos dão postos de trabalho. E isto é muito importante para uma empresa nacional e familiar. Os resultados financeiros também são muito importantes, mas a questão é que os postos de trabalho são fundamentais. Manter e crescer a nível de postos de trabalho é fundamental nesta casa. Estas marcas ajudam a que o nosso negócio seja reconhecido, por sermos experts a nível de marcas próprias e muito competitivos em vários produtos.

A inovação e a eficiência são apresentadas como pilares da empresa: Como materializam estes conceitos?

A nível de eficiência, somos uma empresa comercial, mas, efetivamente, temos muitas operações como logística, o picking, a distribuição e a produção. A verdade é que se não tivermos isso no pack of our mind acabamos por ter desperdícios em toda a cadeia. E o cliente não paga os desperdícios. Isto não é muito bonito de se dizer, mas é um facto. Portanto, acabamos por ter aqui uma cultura de melhoria contínua, de dar formação às pessoas, para olharem para aquilo que fazem, perceberem por que fazem o que fazem e questionarem se, fazendo de outra maneira, não poderia ser melhor. Existe esta dinâmica.
Quanto à inovação, essencialmente temos o processo de investigações, que tanto tem a parte dos novos produtos, como a prioridade em dar resposta a tudo aquilo que os clientes nos pedem. Assim, vemos a área das investigações como investimento puro, que passa por antecipar as necessidades do mercado. Materialmente, não consigo dizer qual o valor de investimento, agora posso adiantar que há muitas horas investidas em formação e de brainstorming.  O Mindlab, um laboratório criado para receber os inputs de cada área, é o centro da nossa investigação.

De que forma é que a Gelpeixe se considera uma marca inovadora?

Primeiro porque acho que, ao longo de toda a cadeia de valor, tentamos estar sempre alerta para tudo o que é inovação, seja ao nível de produto, seja ao nível de refresh, de processos, de tratamento de clientes, de novos mercados. Transversalmente, somos uma marca que gosta de fazer um bocadinho mais do que aquilo que existe. Eu acho que a inovação vai muito além do produto. Estende-se à forma como somos reconhecidos – já ganhamos prémios de responsabilidade social, mas, mesmo assim, todos os anos tentamos fazer mais, procurando sempre caminhos em que as pessoas possam participar.

Quarenta e um anos depois, inovar torna-se mais desafiante?

É um desafio e não só: inovar é uma responsabilidade. Primeiro, porque o mercado está em constante mudança, uma mudança cada vez mais rápida. E, portanto, a inovação tem de ser algo usado para nos diferenciar, para conseguirmos dar ao mercado aquilo que ele precisa. E também aquilo que ele ainda não sabe que precisa, mas nós já temos de estar a pensar nisso. Acaba também por ser ponto de honra estar up to date e tornar esta empresa, ainda que com os seus 41 anos, sempre uma empresa super jovem. Parte daqui também a necessidade do rebranding.

Foi em 2017, na celebração do 40.º aniversário, que mudaram a imagem. Com que objetivo?

A necessidade que encontramos foi a de englobar todos estes produtos. O peixe continua a ser o core (é 80% da nossa faturação). A marca Gelpeixe representa cerca de 20% daquilo que vendemos, tudo o resto acaba por ser outras marcas. Então decidimos dividi-las. O universo Gelpeixe é representado pelo logotipo, que agora tem várias ondas lá dentro, ilustrando cada uma das marcas. Portanto, nós temos pasteis de bacalhau em Gelpeixe Chef e rissóis de leitão em Delidu Chef, ou seja, aquilo que nós fazemos está presente nos segmentos dentro das marcas, conforme a origem. Por outro lado, estão alinhadas pelo design. Algo muito bem-recebido, até ganhamos um prémio, com a empresa a comOn, nos Prémios Lusófonos da Criatividade. Aquilo que achamos importante é dar uma imagem à empresa, que, apesar de já ter mais de 40 anos, continua up to date e a olhar para o futuro e a abraça-lo, não só fisicamente, mas também em branding.

E os resultados?

Estávamos de pé atrás, dado ser uma mudança tão radical, mas as pessoas adoraram. As embalagens têm um food selling superapelativo e muito clean. São duas marcas distintas, mas que dão a perceber, perfeitamente, que são da mesma empresa. O feedback foi muito bom, tanto de clientes como de consumidores.

Qual o volume de vendas da Gelpeixe?

O nosso volume de vendas é de 53 milhões de euros. Portugal representa 85% deste volume e os restantes 15% são para exportação. Produzimos 24 toneladas, mas temos capacidade para mais. Ou seja, temos mais capacidade instalada do que aquela que estamos a ocupar neste momento, pelo que estamos a trabalhar one shift (8 horas, 40 horas por semana). As pessoas da produção não trabalham sexta-feira à tarde (saem ao meio dia), mas trabalham uma hora a mais nos outros dias. Quanto à produção, estamos a fazer 60 mil embalagens por dia, uma média – como referi – de 24 toneladas, mas lá está: temos capacidade para mais. Em 2017, produzimos um total de 5.500 toneladas. Por pessoa e por hora trabalhada, estamos a produzir, em média 40 quilogramas.

E os destinos com maior volume de exportações?

Polónia, Angola e Espanha, estes são os nossos top 3. Neste momento. estamos em 20 países.

Quais a perspetivas de crescimento?

Para já, temos o foco na construção do novo pavilhão (cujas obras já começaram), que nos permite aumentar 45% da nossa armazenagem.

Esta entrevista pode ser lida na íntegra na edição impressa da Briefing.

rb@briefing.pt

 

Quarta-feira, 29 Agosto 2018 11:31


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