De entre os impactos sociais e económicos da pandemia de Covid-19, Diogo Simões Pereira destaca o impacto na vida de mais de 1,5 milhões de crianças e jovens em Portugal, dos 3 aos 18 anos, “que se veem fechados em casa e impossibilitada de socializar e libertar toda a sua energia positiva”. Argumenta que “o desafio das escolas entre abril e junho deste ano será um dos maiores das sociedades em todo o mundo, pois trata-se de uma verdadeira revolução digital em tempo recorde”.
Entende que, “com mais ou menos tecnologia, com mais ou menos aprendizagem, a maioria dos alunos ultrapassará esta fase, sem consequências”. Mas adverte que “há uma franja, de 10 ou 20% se calhar, mais vulnerável, que, por isso mesmo, se atrasará ainda mais no pelotão da aprendizagem e do conhecimento, desde logo porque a sua família se encontra em situação de exclusão digital”. “Esse impacto poderá não se ver nos resultados de 2019/2020, mas virá ao de cima no futuro. Prestar atenção a este grupo de alunos vulneráveis é um dos maiores desafios das escolas e autarquias de todo o país, mas também da sociedade civil e de organizações como a EPIS”, preconiza.
No que toca à EPIS, manteve a operacionalidade dos seus programas de promoção do sucesso escolar, com 11.298 alunos do 1.º Ciclo ao Secundário em 2019/20, apostando no acompanhamento por via remota dos alunos autorizados pelos seus encarregados de educação, utilizando os canais que sejam mais práticos em cada caso: app EPIS, uma aplicação proprietária que permite agendamento e gestão de sessões e comunicação por chat e mensagens; telemóvel, voz e dados; Skype, Zoom, MS Teams ou aplicações afins, abertas ou das escolas; WhatsApp, Facebook, ou outras redes sociais. Adianta que este modo de acompanhamento foi testado em março e será alargado a partir de 14 de abril, quando se iniciar o 3.º período. No caso dos alunos mais novos, o acompanhamento remoto será feito, sobretudo, através dos pais ou encarregados de educação, em articulação com os professores. Também as sessões dos programas de voluntariado com quadros dos parceiros da EPIS, em particular as explicações, serão realizadas através destes canais, dentro da medida da disponibilidade das partes envolvidas. E nas redes sociais, foi intensificada a partilha de dicas, boas práticas e testemunhos dos professores, mediadores, alunos e famílias, de modo a reforçar a “proximidade” com a comunidade educativa da EPIS. No início do 2.º semestre, o programa de Bolsas Sociais EPIS 2020 vai focar-se no apoio a crianças e jovens mais afetados pela crise atual.
A atividade da EPIS centra-se na promoção do sucesso escolar de crianças e jovens de famílias mais vulneráveis, em 46 concelhos do continente e quatro ilhas dos Açores. E dessa rede – partilha o diretor-geral – começaram a chegar, em março, sinais de “ansiedade” por parte dos alunos e das suas famílias, “muitos dos quais estarão relacionados com a noção de que virão dificuldades económicas”. “Concretamente, tivemos diversos casos de encarregados de educação que não quiseram que os filhos fossem acompanhados remotamente, por interferir com as novas rotinas já estabelecidas”, exemplifica.
O receio é que, neste cenário, que se vai acentuar, as oportunidades de aprendizagem diminuam e os riscos de insucesso escolar, ou de aprendizagens menos robustas, tenham tendência para aumentar. Por outro lado – alerta – “a inclusão digital em muitas famílias não é uma realidade, pelo que tem de se prestar muita atenção aos alunos que não vão ter as mesmas oportunidades durante este período”. “Deste modo, a prazo, o resultado desta crise poderá ser a existência de mais situações de insucesso escolar no futuro e, consequentemente, de risco de saída escolar precoce mais à frente, que abre a porta para outros riscos de exclusão social. Mas esse é o desafio a evitar pelas comunidades educativas”, salienta. E conclui: “A inclusão digital dos alunos mais vulneráveis é um dos grandes problemas a atacar nos próximos meses”.