Briefing | Que balanço faz dos 19 anos de televisão privada em Portugal?
Rui Teixeira Motta | Balanço é um resultado, entre o bom e o menos bom, logo: foi positivo o aparecimento de TV’s privadas em Portugal, dado que permitiu criar um espaço de concorrência e emulação. Negativo, como já à época se previa, o facto de tal concorrência ter optado pelo caminho mais fácil, baixando o nível da qualidade do produto televisivo.
O que podia ser melhor?
Tudo pode sempre ser melhor! Mas, dispensando os aforismos voluntaristas, a concorrência, deveria, ter assentado na melhoria, inovação e responsabilidade da informação, fazendo jornalismo sério e independente e na programação, cumprindo a missão inalienável de entretenimento com respeito pela inteligência e elevação cultural dos espectadores. Nada disso aconteceu, bem pelo contrário. As TV’s privadas, enquanto empresas que visam o lucro, volveram-se em meros quiosques electrónicos de venda de publicidade. Para o maior número de consumidores/espectadores. Escravizaram os valores às audiências, muito mainstream afinal!
Por onde passa o futuro da televisão privada?
Por um caminho estreito. Mais cedo que tarde, as audiências cansar-se-ão de novelas que se mimetizam umas às outras e reality shows que, já vogando no sexo explícito, no sangue implícito e na devassa comercial do ser humano, em breve não terão muito mais para explorar. Estão condenadas aos níveis inferiores da classe C e classe D; os demais migrarão para a NET e para o Cabo, como a ATV (Associação de Telespectadores) já previu no final do ano passado ao apontar o Cabo como a revelação do ano, ainda antes das actuais shares.
Mas atenção! Durante a próxima década ainda poderão provocar muitos estragos na literacia e formação dos portugueses. Quem duvida que, por exemplo, um José Eduardo Moniz é mais poderoso que dez ministros da educação sucessivos?
As TV’s privadas têm-se comportado como um governo populista que oferece “gato por lebre”. Se nada for feito, em termos de regulação em cumprimento da Lei, a factura chegará, tal como na economia, de forma dramática. No caso vertente, sob a forma de acriticismo e bestificação cultural das classes culturalmente mais desfavorecidas. Já ouviram falar no mexilhão?
Há espaço para mais televisões privadas em sinal aberto?
Tecnicamente sim. Na prática, a concorrência desregrada acima descrita, só pode conduzir – dada a dimensão do mercado publicitário – a maior concentração e canibalização do mercado de oferta. Com as actuais regras do jogo, seria/será(?) um convite ao genocídio cultural dos portugueses. Daí a importância da TV pública, a funcionar como tampão e referencial. Cuidado! Não mandemos tudo às ervas nem a relvas.
Fonte: Briefing
Foto: Telmo Miller