Situada na Praça da República, no Porto, a Bazooka estreou esta sede há dois anos, mas o objetivo era que “continuasse a ser aquilo que tem sido desde a sua origem”, isto é, “simples e igualitária”. Por isto, o diretor criativo insistiu num open space, para estar no meio da equipa. “Penso que divisões físicas tendem a gerar divisões simbólicas que, quer queiramos quer não, podem sempre afastar ou constranger os relacionamentos entre a equipa”, clarifica. “’A porta’ pode sempre estar aberta, mas, embora aberta, há locais em que ninguém ousa passar ‘a porta’”, explica. Ainda assim, o escritório tem divisões definidas entre área de trabalho, sala de reuniões, área de reunião informal (ou “relax”) e copa.
Um espaço amplo, iluminado, espaçoso, com o chão aos quadrados pretos e brancos e um terraço com uma vista de 360º para a cidade do Porto. “É uma bonita perspetiva rara da Invicta”, conta Flávio. As telhas das casas antigas, o topo dos Clérigos, a Casa da Música, o Palácio de Cristal, o tabuleiro superior da ponte Luís I, a Sé, a Serra do Pilar e a zona montanhosa que se vê depois dos limites da cidade. Entre outros, são estes os elementos da paisagem que servem de inspiração, local para conversas, para descomprimir num serão com amigos e para o diretor criativo “desanuviar”: “Não me canso de ver os pores-do-sol que mudam de tonalidade de acordo com a estação do ano em que estamos”, descreve.
Mas voltando para dentro da agência… Flávio Gart acredita que é a “singularidade” que torna o escritório especial: “Um grande open space com pouca parede e muito vidro que deixa entrar a cidade do Porto e suas luzes diurnas e noturnas também”. A decoração ainda está em desenvolvimento e grande parte dela depende de quem lá trabalha: “Está a ser um processo orgânico e giro, pois a própria equipa sente-se à vontade para trazer objetos pessoais e decorar o escritório como um local agradável onde sabe bem-estar”, explica. Este escritório significa “uma conquista, um fruto de trabalho árduo, persistência, foco em crescer de forma sustentada sem prejuízo de ninguém, sejam clientes, parceiros, equipa”. Admite que foi desenvolvido a pensar no bem-estar da equipa e dos clientes, de forma ser um local agradável “para estar e potenciar as boas ideias fluírem”.
Flávio Gart não tem amuletos porque é “demasiadamente cético para crer”, mas admite o apego a alguns objetos. Nomeadamente um boneco do Royce Gracie um lutador de jiu-jitsu, uma caneca do Darth Vader, o T-Rex e o Pig Bank. “Tenho vários objetos que guardo com carinho ao longo desses quase 10 anos de agência”, diz.
Também não tem um local especifico onde se desenrole o processo criativo, apesar de relembrar que a vista 360º transmite inspiração. Mas é a espontaneidade do processo criativo que o caracteriza: “a caminhar, a dirigir, na vinda de uma palestra ou visita à um cliente”. “Numa conversa na copa, na sala de reuniões ou mesmo nos postos de trabalho”, continua.
“Já ouviu falar na teoria do caos?”. É com esta pergunta que Flávio “descreve” a secretária onde trabalha. Uma resposta “vaga” que merece explicação: “Esqueçam as asas da borboleta, há folhas, rabiscos, muitos, imensos, fragmentos de ideias que surgem, que ficam, que fazem sentido num minuto e extinguem-se no minuto seguinte”. “Computador, folhas para assinar, correio e encomendas que chegam, sempre tem uma garrafa de água, um disco rígido extra, canetas, lápis, e uma infinidade de utensílios clássicos”, descreve, para tornar mais fácil a compreensão da “teoria do caos” de que fala, e acrescenta “duas penas grandes de gaivotas que apareceram no terraço”. O terraço está em todo o lado, até na secretária. “Embora seja o caos, eu vou me entendendo com ele, volta e meia me pego a arrumar a mesa para que na semana seguinte a tal da borboleta pareça um pterodáctilo e já esteja uma infinidade de papéis, livros, etc. em cima da mesa”, justifica. Mas o que não pode faltar na secretária? “Os meus headphones”, remata. É que gosta de trabalhar na companhia de Jobim, Vinicius de Moraes e outros imortais do bossa nova: “É o meu estilo preferido”, conta.
Na Bazooka não pode faltar um espaço para refletir ou ter uma conversa “mais séria” e intimista. “O mais engraçado é que cada membro da equipa tem o seu, alguns no terraço, outros cá dentro”, comenta o diretor criativo. Apesar de os “dias maus” serem raros, “pela coesão da equipa e informalidade”, no meu caso, quando acontecem, gosta de ficar à mesa, após o expediente, a refletir: “Ponho uma música que goste, trabalho, pesquiso, me informo ou relativizo”. Mas em dias de primavera ou verão é no terraço que vai estar. Em “dias bons” (e “pós expediente”), a equipa aproveita a proximidade da baixa do Porto para relaxar (ou para acompanhar alguma ação). Contudo, apesar de ser apresentado como um local “super tranquilo e harmonioso”, muitas vezes transforma-se num campo de batalha. Mas Bazooka(s) à parte, nesta agência a guerra faz-se com Nerfs. “Temos mais que uma dezena de armas e recentemente compramos mais de mil balas para fomentar o arsenal”, conta o diretor criativo.
“Um grande lutador de jiu-jitsu que me foi oferecido com carinho”. Flávio é praticante desta arte marcial, de onde retira um ensinamento: “É preciso método e persistência para atingir os objetivos a que nos propomos”.
O Pig Bank é conhecido entre amigos por “o porquinho cofrinho de cuecas mais fixe”. O membro mais antigo da agência (ele e o Flávio já estavam juntos antes) , acompanhou todos os momentos, bons e maus, da evolução da Bazooka.
Amigos sem negócios à parte. “Em 2009, achei que o porquinho precisava de um amigo, então comprei o T-Rex”.
Na Bazooka os problemas resolvem-se com diálogo. Este “é bonito, feito do modo clássico em madeira e envernizado”. O objetivo é deixá-lo na sala de reuniões, “à vista de todos”, mas “apenas pela graça”, diz o Flávio.
“Misticismos à parte, com a loucura que vemos um pouco por todo o mundo, já não é possível esperar que um santo consiga ajudar-nos, talvez tenhamos que apelar ao Super António, um santo supimpa”
Além da vista 360, o terraço faz parte da Bazooka (e da secretária de Flávio).
Para a guerra de Nerfs: “Cada um tende a ter a sua arma preferida e quando a guerra começa voltamos todos a ser crianças, é bonito”.
Obrigatório na secretária. É através deles que Jobim, Vinicius de Moraes e outros do Bossa Nova conseguem segredar aos ouvidos do diretor criativo.