Briefing | O que é que a Escola está a preparar para o próximo ano letivo nos cursos que tem? Haverá algumas novidades?
Jorge Veríssimo | Em termos da oferta formativa mantemos quatro cursos de licenciatura e quatro cursos de mestrado e um de doutoramento, de Ciência da Comunicação, em conjunto com o ISCTE. Em termos de licenciatura são as quatro na área de audiovisual e multimédia – Relações Públicas, Comunicação Empresarial, Publicidade e Marketing e Jornalismo. Há uma outra questão que a Escola trabalha em paralelo e que é a componente tecnológica. Ou seja, todos os nossos cursos têm uma forte componente tecnológica e de facto, neste momento a ESCS, estará, nesta área, no topo pois vamos ter toda a escola em ambiente Mac e até uma redação eletrónica de Jornalismo.
Briefing | Qual é a mais-valia dessa componente tecnológica?
JV | A mais-valia é aquilo que tem caracterizado a Escola: o facto de os nossos alunos trabalharem aqui em ambiente profissional de forma a que, quando chegam às empresas, não sintam grandes diferenças. Aliás, são as empresas que dizem que os nossos alunos chegam lá e sabem trabalhar. Há na Escola uma componente de simulação muito grande assegurada por um corpo docente com um mix de professores de carreira e profissionais nas diferentes áreas que acaba por dar uma grande mais-valia associada à componente tecnológica.
Briefing | Atualmente, qual é a realidade da Escola? Quantos alunos é que tem?
JV | Tem cerca de 1500 alunos, sendo 1100 de licenciatura e cerca de 400 de mestrado. A Escola tem 10 vezes mais candidatos do que vagas. O de jornalismo, por exemplo, tem cerca de 12 vezes mais candidatos do que vagas.
Briefing | No caso do Jornalismo como é que isso se explica tendo em conta o cenário de crise que se vive atualmente?
JV | Temos duas explicações: uma é que de facto as pessoas escolhem a Escola por vocação e querem estas áreas da comunicação e isso explica-se pelo facto de termos um elevado índice de satisfação de procura – um elevado número de candidatos que escolhem este curso em primeira opção -, por outro lado, temos imensa gente das Humanidades que acaba por vir para a área da Comunicação porque sabem que esta área tem possibilitado outras saídas profissionais. Também incutimos aos nossos alunos que podem fazer outras coisas para além do curso que estão a tirar. É por isso que, desde o ano letivo 2006/07 todos os cursos têm uma cadeira de Empreendedorismo, no terceiro ano. Isso leva também os alunos a perspetivar outras possibilidades de carreira. O objetivo dessa disciplina não é apenas pôr as pessoas a pensar no seu próprio negócio mas sim colocá-las open mind e abrir perspetivas de trabalho e carreira.
Briefing | O curso de Jornalismo é o mais procurado na Escola?
JV | Do ponto de vista quantitativo é o mais procurado mas em termos gerais as diferenças não são muitas. No ano passado, por exemplo, tivemos 700 candidatos para Jornalismo, 600 para Publicidade e Marketing e também 600 para Relações Públicas. Essa tem sido a tendência da Escola nos últimos anos e mantém-se para os próximos anos e com médias altas. Isto é, a média mínima de entrada anda nos 15 valores.
Briefing | Como é que tem gerido a Escola num ambiente de crise? Pelos vistos não há falta de candidatos…
JV | Torna-se complicado gerir com reduções orçamentais anuais. Temo-la gerido à custa dos próprios docentes, que vão tendo cada vez mais trabalho e assumindo tarefas até administrativas, e de receitas próprias que vamos gerindo. Há uma outra dificuldade que, felizmente, não temos sentido muito, que é a falta de pagamento das propinas.
Briefing | Qual é o grau de empregabilidade dos alunos da ESCS?
JV | As respostas que vamos tendo quer de organismos exteriores à Escola quer através das nossas próprias estatísticas indicam que a taxa de desemprego não é muito alta.
Briefing | Como é que olha para o jornalismo atual, que vive na era do fim do gatekeeper?
JV | Há quatro aspetos essenciais que, do meu ponto de vista, contribuem para a atual crise dos media: proliferação de suportes online; dispersão de audiências; menor apetências dos mais jovens pelos media tradicionais; perdemos o hábito de pagar para ter conteúdos. Estes quatro pontos, aliados a outros, como, por exemplo, a redução do investimento publicitário, é que acabam por criar a crise dos media que hoje estamos a viver.
Briefing | Como é que se sai dessa crise?
JV | Há uma noção que é importante ter: fala-se muito no jornalista cidadão mas há que ter em conta que o cidadão-repórter, em relação aos jornalistas, não tem credibilidade e não tem um suporte que lhe dê legitimidade. Por outro lado, não sei se a sua informação é verdadeira, imparcial e rigorosa. Dizer que o jornalista poderá, tendencialmente, ser substituído pelo jornalista cidadão, não me parece ser a via mais correta. Mas estas pessoas são importantes pois alertam, fazem com que certas questões sejam faladas nas redes sociais e que as redações as tratem. Outra coisa que está a ter muita importância é o fenómeno dos comentadores e de eles estarem a marcar a agenda. Os meios de comunicação social têm de repensar esta questão e definir qual o papel do comentador e do jornalista e a importância que é dada a cada um deles e também ao cidadão.
Briefing | Na área do Marketing e das Relações Públicas também nota um ambiente de redefinição de modelos de negócio?
JV | Acho que o Jornalismo, como é uma questão que mexe mais com o público e é mais visível, é mais premente. Pessoalmente, penso que os marketeers e os relações públicas se estão a adaptar melhor que os próprios jornalistas a estes novos tempos. Estão a ver nas novas tecnologias grandes oportunidades, estão a saber trabalhar com a parte das redes sociais e dos novos media. O mesmo acontece com os publicitários, que estão a trabalhar muito bem com as redes sociais – não é por acaso que neste momento lançam as campanhas nesses suportes para ganhar notoriedade. O negócio também é diferente do jornalismo e as marcas estão a perceber que, ao contrário do que acontece com as campanhas tradicionais de publicidade, trabalhando com as redes sociais conseguem gerar atitudes e notoriedade.
Briefing | Quais serão as novas tendências no Jornalismo? O fim do papel, por exemplo?
JV | O papel existe, nalguns casos, para a notoriedade do próprio suporte e também por causa do valor da marca. Se o Público ou o Diário de Notícias deixassem de existir em papel acho que o valor da marca desaparecia. Não sei se o papel desaparecerá mas o que se vê todos os anos é que as tiragens estão a diminuir.
Briefing | Tem um modelo de negócio pensado para os media online?
JV | Já percebemos que as pessoas não aderem ao pagamento de conteúdos. Tem que se pensar num modelo de negócio vendo os patrocínios e apoios das marcas. Mas aqui temos de ver onde é que entram as questões éticas.
Briefing | O que está a querer dizer é que, no futuro, vai haver uma interligação cada vez maior entre marcas e jornalismo?
JV | Acho que tem de haver e vai ser por aí o caminho. Inicialmente o que tínhamos era os jornais a serem suportados pelas vendas e depois passou a ser a publicidade a suportar grande parte dos custos e chega-se a um ponto em que os terá de suportar na íntegra. Acho que o novo modelo tem de pensar nisso, embora noutros moldes. O futuro não vai ser o pagamento de conteúdos – os jovens não estão para os pagar. Veja o caso da música, com os artistas a viverem dos concertos e não da venda de discos.
Briefing | Pessoalmente, e sendo uma pessoa ligada ás áreas da comunicação, como é que acha que a marca Portugal deveria ser promovida?
JV | Portugal nunca tratou bem a marca Portugal, quer do ponto de vista interno, quer externo. Do meu ponto de vista sempre associou a marca Portugal às questões do turismo e devia-se trabalhá-la como uma marca. Aliás, o Carlos Coelho é disso que fala. A marca Portugal tem de ser trabalhada como as empresas trabalham as suas marcas, com as diferentes áreas da comunicação e para os diferentes públicos. Nas Relações Públicas tem de ser trabalhada do ponto de vista de comunicação interna para os portugueses e no seu todo. Ou seja, como é que os portugueses percecionam Portugal e não apenas tentar que as pessoas façam turismo cá dentro. É fazer como as empresas fazem do ponto de vista da motivação das pessoas, levá-las a vestir a camisola. Para os públicos externos, ela terá que ser feita com ações de comunicação, de marketing, de publicidade, com eventos e com lobbying, em tudo idêntico ao processo de comunicação das marcas.
Fonte: Briefing